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Junho de 2024 - #1 Todo um OCEANo de dúvidas

No substack: esFOAMeados No patreon: esFOAMeados Em podcast: Hipótese Nula



TABELA DE CONTEÚDOS
 

SINOPSE


🎂 Nata da nata

- IA --> ECAs mostram que IA auxilia as intervenções médicas (Lancet, Digital Health)


🍰 Nata

- SCA --> Anti-agregação simples com ticagrelor depois de 1 mês de dupla superior (ULTIMATE-DAPT, Lancet)

- SCA --> ICP guiada por ecografia superior a guiada por angiografia (IVUS-ACS, Lancet)

- EAo Grave Sintomática --> TAVI pior que SAVR em baixo-risco e vv bicuspide (NOTION-2, EHJ)

- Angina Refractária --> Cirurgia de redução do seio coronário levou a menor cirurgia (ORBITA-COSMIC, Lancet)

- FA e CVE --> CVE dupla em obesos pode ser superior (JAMA Cardiology)

- Angiodisplasia gastrointestinal --> Octeótrido mais eficaz...mas mais mortal ??? (OCEAN, Gastroenterology)

- Cuidados avançados --> Plano estruturado superior no cancro genitourinário avançado (CAREplan, JAMA Oncology)

- Hiperplasia adrenal congénita --> Crinecefront superior em reduzir necessidade de corticóides (CAHtalyst, NEJM)

- Angiodema Hereditário --> Dois fármacos na profilaxia eficazes...mas vantagem? (OASIS-HAE e KONFIDENT, NEJM)

- AVCi minor --> Tenecteplase PIOROU desfechos (TEMPO 2, Lancet)


🧐 Observações

- Revisões sistemáticas: CCR precoce e sinais de alarme

- Primários: SAVR vs TAVI na falência de prótese aórtica biológica | Atroplastia do joelho e cemento com antibiótico | IBP na cirrose | Rx na suspeita de AR | Espondiloartrite axial e diagnóstico | Injecções de corticóide e risco de fractura


Opiniões

- Perspectiva: Anti-coagulação indefinida após TEV | Pregabalina e dor neuropática por qualquer causa | Financiamento da indústria e ética | EBM e qualidade dos dados | FDA e idelalisib no Linfoma não-Hodgkin não-indolente.


 

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REVISÕES SISTEMÁTICAS de ECAs

Diagnóstico e Raciocínio Clínico

86 ECAs (133 rastreio inicial), n~350, scoping review, PROSPERO, PRISMA, PubMed/SCOPUS/CENTRAL/ICTRP, 2018-23

Pesquisa --> "artificial intelligence", "clinician" e "clinician trial"

P - Ensaios controlados e aleatorizados (ECAs) clínicos

IC - Componente de IA (= modelo computacional não-linear*) integrado na prática clínica

*p.e. árvores de decisão, redes neuronais, ... ; exclusão de análises lineares como regressão logística

O - Gestão de cuidados | Decisão Clínica | Acuidade Diagnóstica | Comportamentos e sintomas do Doente

» MAIORIA dos ECAs com melhoria estatisticamente significativa nos 4 domínios

...mais dúvidas quando se compara IA com Médico

Comentário: Esta é, na verdade, uma Revisão "Scoping" (não sei traduzir para português)...mas com o cunho co-autoral dos professores Eric Topol e John Ioannidis, pelo que aumenta logo a minha confiança na qualidade do estudo. O que fizeram foi mais uma caracterização que outra coisa. Fica-se a saber que a grande maioria vem dos EUA e da China e nas áreas da Gastroenterologia e Imagiologia (na verdade, mesmo os da Gastro estudam é imagem/video das endoscopias na maioria). Percebe-se que a IA tem utilidade clínica na maioria dos ensaios, sobretudo quando se fala em apoiar o médico, ao invés de substituir.

Conclusão: Inteligência Artificial benefícia as intervenções clínicas na maioria dos contextos...ainda limitados



 

ENSAIOS CONTROLADOS E ALEATORIZADOS

Cardiovascular

n=370, não-oculto (apenas assessor de desfechos), multicêntrico em vários países europeus, 2016-2024

P - Estenose Aórtica Grave Sintomática + <75A e Baixo-risco (Risco STS ~1%)

I - TAVI

C - SAVR

O 1º » Igual/mais mortalidade, AVC ou re-internamento aos 12 meses - 7 vs 10 %, RRA 3.1% (−2.7% to 8.8%)

Igual " " " " se válvula tricúspide - 8.7 vs 8.3 %, HR 1.0 (0.5 - 2.3)

           Menos " " " " se vv bicúspide - 14 vs 4 % / ARA 10% /NNH 10, HR 4 (1-19)

    2º » Menos hemorragia major e FA de início recente

» Mais AVC não-incapacitante,PM permanente e insuficiência valvular moderada/grave

Comentário: Já é 5º ECA depois dos PARTNER-3, EVOLUT Low Risk, NOTION-8 e o (recentíssimo) DEDICATE-DZHK6 e acho que não vale a pena discorrer muito sobre a discussão do follow-up destes ensaios porque já o fiz há 1 mês. Neste nem é preciso discutir muito o tempo de seguimento, já que a colocação percutânea de válvula ou TAVI teve piores desfechos no geral e, sobretudo, muito piores desfechos se avaliarmos apenas os com válvula bicúspide.

Conclusão: Num ECA de menores dimensões que os prévios a avaliar de doentes de bastante baixo-risco, TAVI com maior risco a 12 meses nos doentes com válvula bicúspide e possibilidade para maior risco nos outros.


n=3.505, duplamente-oculto, 58 centros na China, Paquistão, Itália e Reino-Unido, Público (China), 2019-2022

P - Síndrome Coronário Agudo pré-ICP

I - ICP guiada por ecografia

C - ICP guiada por angiografia

O 1º » MENOS morte cardíaca, falência de lesão-alvo, EAM de lesão-alvo, reICP de lesão-alvo a 1A - HR 0.55 (0.41-0.74)

Menos EAM de lesão-alvo e re-ICP de lesão-alvo

Igual morte de causa cardíaca e falência de lesão-alvo

    2º » Iguais desfechos de segurança

Comentário: Há poucos meses falámos aqui da grande meta-análise do Lancet a comparar ICP guiada por imagem 3D (ecografia ou TCO) com ICP guiada por angiográfica. E agora, mais um grandíssimo ECA a encontrar benefício na ICP guiada por imagem, neste caso ecográfico. Okay, o benefício aqui não foi tão estrondoso como na meta-análise, em que a diminuição de mortalidade cardiovascular foi relevante e até maior que a melhoria noutros desfechos cardíacos (o que na altura já nos fez duvidar), mas tivemos algum benefício. Temos que, pelo menos, parece haver menos necessidade de re-vascularização e menos EAM da lesão-alvo. Se isto foi relevante...mais duvidoso. Não fora pela meta-análise e não ficaria tão convencido. Mas enfim, se não for uma intervenção muito mais trabalhosa, porque não?

Conclusão: ICP guiada por ecografia no SCA com menos EAM e ICP de lesão-alvo após 1 ano...mas igual mortalidade.


n=3.505, duplamente-oculto, 58 centros na China, Paquistão, Itália e Reino-Unido, 2019-2022

P - Síndrome Coronário Agudo pré-ICP + 1 mês de Anti-Agregação Dupla (AAD) sem eventos agudos

I - Ticagrelor 90mg bid + Placebo até aos 12 Meses

C - Ticagrelor 90mg bid + AAS 100mg até aos 12 Meses

O 1º » MENOS hemoragia clinicamente relevante - 2·1% vs 4·6% / RRA 2.5% / NNT 40, HR 0·45 [0·30 a 0·66]; p<0·0001

» NÃO-INFERIOR/IGUAL MACCE - 3.6 vs 3.7 %, HR 0.98

Comentário: Já têm vindo aqui a parar inúmeros ECAs e meta-análises a demonstrar que menos de 1 ano de anti-agregação e não só fazível como desejável, e aqui vai mais um. Desta vez, tiveram a esperteza de assumir como desfecho de superioridade o de hemorragia clinicamente relevante e o MACCE como de não-inferioridade, o que dá mais impacto à "positividade" do ensaio (parece mais superior que apenas não-inferior). Desta feita com ticagrelor, mas até com clopidogrel já há alguma prova (talvez não com tão pouco tempo de dupla). Do que estamos à espera?

Conclusão: No SCA revascularizado e já com 1 mês de anti-agregação dupla, transição logo para simples com ticagrelor superior no sentido que menos hemorragia relevante e, pelo menos, não-inferior eficácia.


n=51 de 61 rastreados, duplamente-oculto até 6 meses, ITT, 6 centros no Reino-Unido, Imperial College, 2021-2023

P - Doença Coronária Estável + Isquémia (RM) + Angina moderada/grave + Sem outros tratamentos

I - Cirurgia de Redução do seio coronário

C - Cirurgia placebo com sedação

O 1º » IGUAL perfusão miocárdica nos segmentos isquémicos (RM com teste de perdusão de adenosina)

» MENOS angina diária após 6 meses (com ocultação) - OR 0.71 (0.55-0.93)

    2º » 2 embolizações no grupo "I" | 0 mortes ou SCA

Comentário: Bem, antes que tudo, ECA bastante pequeno e com um dos desfechos primários pouco orientado ao doente. Porque o trouxe eu? Veio do famoso grupo do Imperial College ao qual pertence o estatisticamente sábio Prof. Darrel Francis (tem um mini-curso de estatística básica muito engraçado), e ainda outros nomes da praça como o Prof. Frank Harrell. Ou seja, estatisticamente, terá tudo o que foi conseguido, aposto. E nota-se logo pelo cuidado com terem simulado a cirurgia ao máximo, com sedação e tudo no grupo controlo e manutenção de ignorância quanto ao braço (ou "ocultação") durante os 6 meses de seguimento! Agora, será esta menor angina diária sustentada no tempo, já que não adveio de menos isquémia? Será chance? Valerá a pena os custos e arriscar coisas como embolizações, ou até outras piores (este ensaio foi pequeneo para surgir essas coisas)? Não sei...

Conclusão: Cirurgia de Redução do Seio Coronário nos doentes com DAC, Isquémia e Angina eficaz em reduzir angina


n=200 / 210 (de 276 incluídos e 2.079 rastreados), ocultação singular (doentes), 3 centros nos EUA (Louisianna), 2020-23

P - FA + CVE não-emergente planeada + IMC>35 Excluídos: instabilidade ; trombo ; CV espontânea

I - Cardioversão eléctrica (de corrente-directa dual) singular (1 par de pás)

C - Cardioversão eléctrica (de corrente-directa dual) dupla (2 pares de pás)

O » Mais cardioversão bem sucedida - 98 vs 86 %, p=.002

» Iguais eventos adversos

Comentário: Ensaio muito muito limitado, com muita exclusão de doentes inicialmente rastreados, incluídos e até aleatorizados (por motivos para mim incertos, só tenho acesso ao resumo e não é explícito), além de outras como ocultação apenas dos doentes (num ensaio com potencial viés de selecção, preocupa-me não-ocultação de investigador) e definição dos desfechos estranha, incompleta e sem definição do desfecho 1º. Ainda ssim, gera a hipótese de que, nos doentes com obesidade de IMC>35, a CVE dupla na FA pode ser o caminho.

Conclusão: CVE dupla pode ser superior em doentes com FA e IMC>35 (estáveis e sem trombo).


Endocrinologia

n=182, duplamente-oculto nas 24S (+ não-oculto no seguimento de 1A), 54 centros intercontinental , NeurocrineB

Os doentes com hiperplasia adrenal congénita estão meio tramados pois têm cortisol e aldosterona a menos e androgéneo a mais. Embora seja mais das crianças, também se pode manifestar nas mulheres com hirsutismo, acne, irregularidade e menstrual, nos homens com tumores testiculares e, em ambos os sexos, com infertilidade. Até agora, tratávamos sobretudo com corticóide em dose elevada para i) aumentar o cortisol e aldosterona e ii) suprimir o eixo CRF/ACTH para suprimir os androgéneos...mas esta dose de corticóide suprafisiológica têm várias consequências que todos nós conhecemos. Daí a necessidade de novos tratamentos. O crinecefront é uma antagonista do CRF1 que tem como objectivo auxiliar os corticóides nesta demanda, levando teoricamente a uma menor necessidade destes (deixa de ser necessário doses suprafisiológicos supressivas). Neste ECA de fase 3 em doentes com dose suprafisiológica de corticóide em que se fez desmame gradual de dose de corticóide, o crinecefront levou a menos necessidade dessa dose, menor dose suprafisiológica e a menores níveis séricos de androstenediona. Pergunto-me agora: e o impacto clínico dessa melhoria? Isto porque houve aumento de eventos adversos graves (numa propração que poderia ter sido maior se fosse um ensaio com 2.000 em vez de 200 doentes). Se a granda vantagem seria menos EAs dos corticóides, estes foram mesmo menores? Não fiquei muito convencido. Espero que o tema continue a ser estudado antes de entrar pela porta do cavalo e só se lembrarem de um grande ECA daqui a 20 anos.


Gastroenterologia & Hepatologia

n=62, não-oculto, ITT,17 hospitais nos Países Baixos,

P - Hemorragia por angiodisplasia gastrointestinal + Tratamento endoscópico + 4 UCEs e/ou FeEV há <1A

Basal: 2 endoscopias e 20 transfusões (UCE ou FeEV) no últ. ano | Intestino (87%), Cólon (48%) e Estômago (27%)

I - Octreótido 40mg IM 1x/dia por 28 dias

C - Cuidados habituais incluindo endoscopia

O 1º » MENOS unidades de tranfusão (UCE + Ferro) em 1 ano - 11 vs 21, redução média de 10 U/A (2-18), p<.012

Menos 8.6 UCE / ano

            Menos 1.8 FeEV / ano

2º » Menos endoscopia em 1 ano - menos 0.9 U/A (0.3-1.5)

Menos admissões hospitalares - 0.5 vs 1.8, -1.3 (0.4-2,3) | Menos cuidados emergentes - 0.3 vs 1.6, -1.3 (0.4-2,2)

            Tendendência numérica para menos ep. de hemorragia, dias de internamento e mais hemoglobina (7.1 vs 6.8...)

Menos fadiga, mais bem-estar mental e tendência numérica para melhor funcionalidade

Mais EAs - diarreia, dor abdominal, hiperglicémia e reacções de injecção

...MAIS mortalidade ?? - 16 vs 6 % / ARA 10 % / NNH 10

Comentário: Mais um ECA de fármacos na angiodisplasia gastrointestinal, depois do ensaio da talidomida publicado no NEJM no ano passado. Este com octreótido estava-me a parecer bastante bom, com melhoria de quase tudo...até que cheguei à maior mortalidade. What? Mais 1 morte a cada 10 doentes tratados? Não esperava esta e confesso que tive de ler várias vezes para confirmar. Bem...não sei o que diga a não ser que precisamos de um ECA bem maior, multicêntrico e com ocultação (pois todos os outros desfechos excepto mortalidade podem ter sido afectados por isto)

Conclusão: Octeótrido parece mais eficaz a reduzir transfusões e endoscopias...mas com maior mortalidade.


Imuno-mediadas

n=136, duplamente-oculto, multicêntrico e intercontinental, KalVista, 2022-2023

O angiodema hereditário é uma doença genética hereditária recessiva (gene SERPING1) que causa deficiência ou disfunção do "inibidor C1", que leva a um círculo vicioso de auto-activação das cascatas da coagulão e cininas e culmina em última instância com maior bradicinina e vasodilatação com edema. A maioria dos tratamentos são endovenosos, embora já exista um inibidor da plasmina (um dos membros da cascata do mal) oral, o berotralstato, usado profilacticamente. Este ECA decidiu estudar outro inibidor da plasmina oral, o sebetralstato, na utilização "SOS" em vez de "profiláctico"...mas comparou-o apenas com placebo. Houve alguma melhoria clínica traduzida em mais eventos resolvidos em menos tempo...mas pergunto-me se houve menos eventos no geral.


n=90, duplamente-oculto, multicêntrico e intercontinental, Ionis Pharmaceuticals, 2022-2023

Outro ECA no angiodema hereditário na mesma publicação do mesmo journal, desta feita mesmo na profilaxia e com um fármaco de uma classe diferente, um inibidor de RNA que inibe a transcrição da pré-calicreína chamado donidalorsen e que foi utilizado a cada 4 ou 8 semanas por via subcutânea. Houve melhoria clínica com menos ataques médios numa boa proporção relativa...mas não tão boa melhoria absoluta. Sim, é uma doença rara, havia poucos doentes, o tempo de seguimento foi curto...e até houve ligeira melhoria na qualidade de vida medida num questionário específico para o angiodema (melhoria de 19 pontos numa escala de 0 a 100, já vi pior) e não mais eventos adversos. Ainda assim, não me surpreende totalmente e gostaria de ver um ECA maior e com outros comparadores activos além de placebo.


Neurologia

n=866, não-oculto, multicêntrico e intercontinental em 48 centros, fincanciamento público (Canadá e RU), 2015-2024

P - AVCi minor (NIHSS 0 - 5) + Oclusão intracraniana ou Defeito de perfusão

I - Tenecteplase 0.25mg/kg

C - Cuidados habituais sem trombólise

O 1º » IGUAL regresso ao mRS basal

2º » MAIS mortalidade - 5 vs 1%, aHR 3.8 (1·4–10·2), p=0·0085

» Mais hemorragia intracraniana sintomática - 2% vs <1%

Comentário: Mais um ECA negativo para trombólise e, mais especificamente, mais um negativo no AVC minor. Nesta população não me parece haver quaisquer dúvidas neste momento que a trombólise não é caminho (ou por outras palavras, é um possível caminho para a morte). O caminha é a anti-agregação dupla (ARAMIS).

Conclusão: Trombólise com tenecteplase no AVC minor aumentou a mortalidade sem maior eficácia.


n=6.100 (de ~11.000 rastreados), aleatorização 2x2, duplamente-oculto, 222 centros na China, 2018-2022

P - AVC minor ou AIT de alto-risco de causa aterosclerótica + < 72h

I - Estatina hiper-intensiva imediata atorvastatina 80 mg dias 1-21 -> 40 mg dias 22-90

C - Estatina intensiva após 3 dias placebo dias 1 a 3 -> placebo e atorvastatina 40 mg dias 4-21 -> atorvastatina 40 mg dias 22-90

O 1º » IGUAL/Menos?AVC novo nos 3 meses - HR 0.95 (95% CI, 0.80-1.13)

» IGUAL/Mais? hemorragia moderada/grave - 0.8 vs 0.6 %

    2º » Menor agravamento neurológico - 9.8 vs 11.4 %, RRA 1.6 % / NNT 63, OR 0.83 (95% CI, 0.71-0.98)

Comentário: Neste ensaio talvez não tão inspirado, optou-se por fazer duas comparações numa só...e, como sempre quando isto acontece, ficamos com dúvidas sobre o que interpretar. Temos que o único desfecho significativo foi menos agravamento neurológico (em desfecho secundário, cuidado!) com estatina hiper-intensiva imediata...mas e agora? Foi pelo "hiper-intensiva" ou pelo "imediata"? Não sei. Depois, nem percebo bem a intervenção no grupo controlo. Enfim, não perdeirei muito tempo pois a grande conclusão a que chego é que não há assim grande diferença entre um ou outro.

Conclusão: No AVC minor ou AIT de alto-risco, a utilização de estatina hiper-intensiva e imediata não foi muito melhor...talvez melhoria neurológica, mas dúvidas.


Oncologia

n=402, ITT, ocultação quádrupla, centro único, EUA/Stanford, 2019-2023

P - Neoplasia maligna genitourinária avançada

I - Plano de educação de cuidados "avançados" por 6 meses + apoio nos registos electrónicos (template)

C - Habitual

O 1º » MAIS documentação nos registos electrónicos - 37.8% vs 21.6% / ARA 16.2% / NNT 6, OR 2.29 (1.44-3.64)

2º » Igual/menos? visitas ao SU - 30.0% vs 33.0% / RRA 3% / NNT 33, O 0.87 (0.57-1.33)

  Igual/menos? hospitalizações - 41.0% vs 46.0% / RRA 5% / NNT 20, O 0.82 (0.55-1.22)

Menos nº de hospitalizações anuais (0.87 vs 1.04) e risco de hospitalizações (OR 0.80 - 0.65-0.98)

Comentário: Mais um ECA (pequeno é verdade) a demonstrar que relembrar um tema tão pouco relembrado pode ser benéfico para o doente. Benéfico para a documentação é certamente (como os outros ECAs no tema têm demonstrado) e, aqui, parece até haver tendência para benefício nos desfechos que mais interessam ao doente. E não foram avaliados desfechos relevantes com medidas inapropriadas, eventos adversos, etc...

Conclusão: Alertar e educar para que se façam cuidados avançados adequados no cancro (aqui, genitourinário avançado) ajuda a maior documentação desses cuidados e pode ajudar a que o doente venha menos ao hospital.


 

ESTUDOS OBSERVACIONAIS

REVISÕES SISTEMÁTICAS COM ESTUDOS OBSERVACIONAIS (com ou sem ECA)

Oncologia

81 estudos / 24 .908 .126 doentes, PROSPERO/PRISMA/múltiplas bases de dados/JBI tool, até 05/2023

Revisão sistemática de todos os estudos com doentes de idade inferior a 50 anos e diagnóstico de carcinoma colorectal não-hereditário. Interessentamente, quase metade tinha hematoquézias ou dor abdominal e cerca de 1/4 tinha alterações do trânsito intestinal. Atentemos a estes doentes, sem esquecer que aqui já não falamos tanto de rastreio mas sim de diagnóstico dirigido aos sintomas (por oposição ao NordICC trial).

 

PRIMÁRIOS - SUB-ANÁLISE / COORTE / CASO-CONTROLO / INQUÉRITOS / A. ECONÓMICAS

Cardiovascular

n=1.771 vs 375, coorte retrospectiva, seguimento em 1 a 4 anos, propensity score, multicêntrico nos EUA, 2015-2020

O que fazer depois de falência de prótese valvula aórtica biológica? Estudo retrospectivo e com grande dose de viés de selecção com exclusão de muitos doentes chegou à conclusão que, mesmo que pareça haver vantagem da TAVI nos primeiros 2 anos (sem vantagem de mortalidade nesse período), parece haver mais mortalidade depois de 2 anos. Precisamos mesmo é de ensaios controlados e aleatorizados (já que mesmo sem falência temos dúvidas - vide acima).


Cirurgia, Ortopedia & MFR

n=2 .168. 924, coorte retrospectiva de base populacional, multicêntrico com registos de 14 países, 2020-2023

Como todos os sabemos, existe algum hábito de alguns ortopedistas de utilização de antibótico local "colado" ao "cimento" utilizado. Este estudo de grandes dimensões foi ver se isto seria útil na atroplastia total do joelho e...não parece haver diferença nos desfechos! Sim é observacional...mas este é um dos casos em que acho que a natureza observacional beneficiaria muito mais os resultados a favor da intervenção...e não o fez. Fico muito pouco convencido com esta intervenção mas sim, claro, um ECA ajudaria.

n~7.000, coorte retrospectiva, EUA (Minnesota) 2018-2022

Numa coorte retrospectiva de doentes americanos a fazer injecções de corticóide, foram identificadas fracturas em 4%, das quais 40% foram osteopórticas. As injecções e a dose cumulativa não parecem ter-se associado a maior risco de fracturas. Estudo observacional retrospectivo pelo que grande potencial de viés de selecção.


Gastroenterologia & Hepatologia

n~1500, coorte retrospectiva, propensity score, 7 centros na Coreia do Sul

Mais um estudo a encontrar associação dos IBP com mortalidade, encefalopatia hepática e peritonite bacteriana na cirrose, sobretudo se em dose elevada. Já não é o 1º a encontrar malefício com IBP nesta população, mas este tem talvez a vantagem de ter usado propensity score e de ser de maiores dimensões.


Imuno-mediadas

n=724, coorte retrospectiva, centro reumatológico, Países Baixos, 2016-2019

Seguidos doentes por 6 meses com suspeita de artrite reumatóide e em que foi pedido Rx das mãos e pés. Diagnóstico de AR em 41% dos doentes mas apenas 4% tinham erosões radiográficas e não se encontrou associação entre estas e diagnóstico ou sintomas. Com o advento da ecografia, radiografia sem grande utilidade nesta fase.


n=522, coorte prospectiva, multicêntrico na Europa, seguimento 3 meses a 12 anos

Nesta coorte de referenciação de doentes de cuidados primários com dor lombar crónica há 3 meses a 2 anos a centros de reumatologia, houve diagnóstico de espondiloartrite axial em 30%. A grande maioria tinha 3 ou mais critérios major ou minor - HLA-B27, história familiar, uveíte anterior aguda, sacroileíte em radiografia ou RM, PIs elevados, resposta forte a AINEs e DII - mas a sacroileíte na RM e resposta forte a AINEs foram os melhores preditores.

A resposta aos AINEs surpreendeu um pouco porque outro estudo deste ano colocou-o em questão (mas neste, a dor crónica tinha uma duração média de 15 anos).

 

OPINIÃO

PERSPECTIVA

Geral, Geriatria & Paliativos

Pregabalina faz realmente falta ao nosso arsenal? Muitas dúvidas, acompanhado por RS&MA no BMJ Open.


Hematologia

Devemos manter NOAC indefinidamente depois de TEV não-provocado? Talvez não, pouca prova de qualidade a sustentá-lo.


Meta-investigação & MBE

Troca de correspondências entre o Andrew Foy e outros médicos e jornalistas sobre um seu artigo publicado no JAMA sobre o trama da indústria e financiamento a médicos.


O "E" de "EBM" pode nem sempre ser um E maiúsculo...muita cautela e senso crítico.


Oncologia

Mais controvérsia (nesta edição já parece que fazemos de propósito, mas não, o mundo é que é assim).


 

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