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Outubro 2025 - #2 Nem só de pão vive o Homem

No substack: esFOAMeados No patreon: esFOAMeados Em podcast: Hipótese Nula


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TABELA DE CONTEÚDOS


SINOPSE


🎂 Nata da nata

- Ventilação mecânica invasiva --> Desmame de ventilador automatizado parece superior em quase tudo (Cochrane)


🍰 Nata

- S. mão-pé --> Metilcobalamina (Vit.B12) reduziu SMP por capecitabina (neo mama) para metade (MEC-HFS, BMJ)

- Dor nociceptiva pós-OP --> Suzetrigina parece uma analgésico não-opióide promissor! (NAVIGATE, Anesthesiology)

- Neo Gástrica --> Se obstrução a gastrostomia endoscópia pode ser superior/não-inf a cx (ENDURO, Lancet G&H)


Normas

-Pneumonia da Comunidade (ATS)


🧐 Observações

- Primários: Metagenómica na UCI e sensibilidade / alteração terapêutica (Lancet microbe) | RM biparamétrica vs multiparamétrica no cancro da próstata (JAMA NetOpen) | Hiponatrémia e IRSS/IRSN (EJE)


Opiniões

- Revisão narrativa: Beta-lactâmicos orais nas infecções por gram negativos (OFID)


🌎FOAMed

Tremor essencial e medicação (TFP) | Demência e sobrevida (ISBE)



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REVISÕES SISTEMÁTICAS de ECAs

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Doente crítico/urgente

n =  ECAs; ≈ doentes; maioritariamente adultos; estudos até Fev ;

P — Doentes críticos adultos e pediátricos com ventilação invasiva em UCI.

I — Desmame de ventilador automatizado em circuito fechado (p. ex., SmartCare/PS, ASV, PAV, NAVA). 

C — Desmame de ventilador não automatizado (cuidados habituais ou protocolos de desmame).

O » Menos dias de Ventilação mecânica: − dias em adultos; efeito consistente em várias UCIs.    » Menos dias de UCI: − dias; hospital: − dias.     » Menos Reintubação: −; NNT ; Menos traqueostomia: −; NNT .     » Semelhante Mortalidade

    » Efeitos globalmente consistentes entre tipos de UCI e perfis de doentes.

Comentário: Direcção do efeito favorável e operacionalmente atractiva, mas com heterogeneidade entre modos e estudos, sugerindo maior robustez para alguns algoritmos (p. ex., SmartCare/PS) versus outros e exigindo prudência na adopção “algoritmo‑agnóstica” precoce. Automatizar pode reduzir variação e atrasos, mas não substitui o juízo clínico nem a necessidade de integração com protocolos locais, formação e monitorização de adesão, factores que modulam o benefício observado no mundo real.

Conclusão: O desmame de ventilador automatizado em circuito fechado reduziu tempo de ventilação e de internamento, com menos reintubações e traqueostomias e sem diferença em mortalidada.




ENSAIOS CONTROLADOS E ALEATORIZADOS

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Geral, Geriatria & Paliativos

n≈2.191 total (abdominoplastia=1 118; bunionectomia=1 073); duplamente‑ocultos, multicêntricos, EUA

P — Adultos após abdominoplastia ou bunionectomia, com dor moderada-grave (EVA≥4)

I — Suzetrigine oral (inibidor NaV1.8): 100 mg de carga, depois 50 mg bid por 48 h.

C — Placebo e hidrocodona/acetaminofeno 5/325 mg qid

O 1º » MAIOR alívio (dor cumulativa de 0 a 48h - SPID48): - 48,4 (IC95% 33,6–63,1) na abdominoplastia e -29,3 (14,0–44,6) na bunionectomia; ambos significativos.

    2º » NÃO superior a hidrocodona/acetaminofeno para SPID48 em ambos os ensaios.

» INÍCIO mais rápido de alívio clinicamente significativo vs placebo: 119 min vs 480 min (abdominoplastia) e 240 min vs 480 min (bunionectomia) — análises secundárias com p nominais.

» Menos náuseas e vómitos que hidrocodona/acetaminofeno

Comentário: Boa notícia para a analgesia multimodal sem opióides — benefício deste novo fármaco vs placebo. O ponto crítico é, apesar da ausência de superioridade face a um opióide fraco em dose baixa/normal…não parece inferior e causa menos eventos adversos (N/V). A interpretação clínica desta escala SPID48 hierárquica escolhida para desfecho 1º (que não conhecia, confesso) é pouco intuitiva e transacionável para a clínica e o modelo hierárquico faz com que a análise dos desfechos secundários seja nominal (ainda menos confirmatórias que o habitual). Além disso, a janela de 48 h limita conclusões sobre segurança/eficácia prolongadas, redução de consumo de opióides de resgate ou tempo de internamento. A generalização merece cautela: modelos cirúrgicos específicos (cosmética, ambulatório), possível viés de selecção (maioria mulheres, brancas) e registos de resgate/anti‑eméticos influenciam a leitura do “opioid‑sparing”. Em suma, promissor como opção não‑opióide de início relativamente rápido, mas são necessários dados comparativos pragmáticos orientados a desfechos que importam (dor média e no movimento, função, tempo até alta, náuseas/vómitos, obstipação, satisfação, uso de resgate, segurança além de 48 h).

Conclusão: Suzetrigine reduziu a dor vs placebo nas primeiras 48 h após cirurgia simples e teve eficácia semelhante à hidrocodona/acetaminofeno com menos N/V.


n=98; aberto, 12 centros nos Países Baixos; Público (KWF Dutch Cancer Society); 22–24

P — Adultos com obstrução gástrica de saída maligna sintomática em contexto paliativo.

I — Gastroenterostomia endoscópica guiada por ecoendoscopia (EUS-GE) com stent “LAMS”, executada por equipas com experiência mínima pré‑definida.

C — Gastroenterostomia cirúrgica (gastrojejunostomia) laparoscópica.

O 1º » MAIS rápido regresso a sólidos (GOOSS ≥2): mediana 1 dia vs 3 dias; HR 2,21 (IC95% 1,43–3,42); p=0,0003.

    2º » Não‑inferior para sintomas persistentes/recorrentes a requerer re‑intervenção: 10% vs 12%; margem NI 20%; diferença de risco 1,6% (LS IC90% 8,9).

        » Semelhante segurança global: EA 58% vs 64%; óbitos 1 vs 3.

Comentário: Ensaio pragmático mas aberto, com exigência de centro de elevado volume e experiência para EUS‑GE, o que pode favorecer a intervenção endoscópica e limitar a generalização fora desses centros de referência. A margem de não‑inferioridade de 20% em re‑intervenções é ampla para decisão clínica e, com amostra de 98 doentes, deixa imprecisão num ensaio com eventos pouco frequentes; ainda assim, o ganho na progressão na alimentação aos 1 vs 3 dias pode ser significativo no cenário paliativo. Importa ponderar acesso local a EUS‑GE, preferência do doente e trajectória oncológica antes de adoptar universalmente como padrão. Finalmente, também ficaria bastante mais contente com um 3º braço sem procedimento invasivo (num ensaio multicêntrico e internacional com amostra maior).

Conclusão: Na obstrução do tracto de saída gástrico maligna, a EUS‑GE antecipou a retoma de dieta sólida e foi não‑inferior em re‑intervenções vs cirurgia.


Oncologia

n = 234; duplamente‑oculto, multicêntrico (7 hospitais na China); Público/Académico; 2022–24

P — Mulheres 18–75 anos, cancro da mama precoce HER2‑negativo a iniciar capecitabina adjuvante.

I — Metilcobalamina oral 0,5 mg tid até 24 semanas com capecitabina padrão.

C — Placebo com capecitabina padrão.

O 1º » MENOS S. mão-pé (grau≥2): 14,5% vs 29,1%; dif. −14,5% (IC95% −24,9 a −4,1) / NNT 7; p unilateral=0,003.

2º » Menos/Iguais reduções/cessações de capecitabina por S. mão-pé: 7,7 vs 13,7%; dif. −6,0% (IC95%: −13,9 a +1,9)

         » Sem aumento de outros EA; nenhum EA específico da metilcobalamina observado.

Comentário: A vitamina B12, ou metilcobalamina, promove o crescimento neuronal, o que pode contribuir para aliviar disestesia e dor neuropática. Este de ECA de fase 3 foi positivo com desfecho clínico relevante e magnitude absoluta apreciável (NNT ≈ 7), em cenário com elevada necessidade e ainda sem profilaxia padrão (eficácia de celecoxibe em outro ECA, mas fármaco com alguns EAs, nomeadamente risco cardiovascular). Contudo, amostra modesta, população exclusivamente chinesa e p unilateral pedem validação externa antes de incorporação universal. Sem sinal de insegurança em 24 semanas, mas restam questões sobre interacções, dose‑resposta e impacto em manutenção de dose acumulada a longo prazo, que merecem seguimento. Apesar de tudo, sendo uma vitamina e até já por nós na medicina conhecida, deixa algum conforto de segurança.

Conclusão: Metilcobalamina oral reduziu SMP associado a capecitabina no cancro da mama para metade, sem EAs


NORMAS DE ORIENTAÇÃO CLÍNICAS - GUIDELINES

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Pneumologia

A guideline da ATS 2025 para a pneumonia adquirida na comunidade actualizou quatro áreas:

·       ecografia pulmonar

·       antibióticos quando o painel viral é positivo

·       duração da antibioterapia

·       uso de corticóides

Maioria de recomendações condicionais e evidência de baixa qualidade. Em paralelo, e no que parece uma quebra de parceria recente, a IDSA não aprovou formalmente o documento e deverá emitir uma norma própria – discordâncias que só reforçam que as guidelines sejam guias, não mandamentos.

Essencial

  • Ecografia pulmonar pode ser alternativa diagnóstica à radiografia de tórax se houver formação adequada, em recomendação condicional de baixa qualidade - um pormenor que explica esta guideline mais virada para a ecografia é o 3º autor ser o Nilam J Soni, intensivista pneumologista que é o autor de uma das "bíblias POCUS"

  • Painel viral positivo: sem comorbilidades no ambulatório recomenda-se não usar antibiótico; com comorbilidades no ambulatório sugere-se antibiótico; em internamento sugere-se antibiótico em todos – what? com que evidência? isto não faz sentido, da literatura que melhor conheço neste tema (COVID-19), a percentagem geral de sobreinfecção era uns 10-20%, pelo que não faz sentido antibioterapia em todos quando só 1 a 2 em 10 vão ter bactéria.

  • Duração antibiótica: ambulatório 3–4 dias se estabilidade clínica; internados não graves 3–4 dias; graves pelo menos 5 dias – gostei desta! já há ensaios que vão até aos 3 dias de antibioterapia e eles contemplaram

    • Após 7 dias, a regra geral é interromper antibióticos salvo exceções microbiológicas ou complicações, reforçando reavaliações entre os dias 3 e 6.

  • Corticóides: não no ambulatório; não em internados não graves; sugeridos na PAC grave, excepto se influenza – no caso do influenza pode mudar com RECOVERY a decorrer…no resto, é o que sem tem falado recentemente

    • A hidrocortisona em doses fraccionadas pode ser opção pragmática pelo perfil neurocognitivo e curta duração de ação, permitindo parar rapidamente quando resolvido (e apoiado por 1 dos melhores ECAs)

Outros

  • Confirmar estabilidade clínica antes de encurtar cursos de antibioterapia: sinais vitais normais, estado mental normal e sem necessidade de O2 acima do basal, com follow‑up próximo para descalonar.

  • Seguimento radiológico: não há obrigação de seguimento com radiografia torácica, as decisões devem centrar-se em evolução clínica, e gasimetrias/oximetria, reservando imagem a dúvidas ou complicações.

  • A “ruptura” ATS–IDSA sublinha incerteza em áreas chave, como antibiótico em painel viral positivo, e exige adaptação local e bom senso clínico.

  • Na PAC grave, a cobertura dirigida a atípicos é geralmente necessária, mas fora da UCI a evidência é mais controversa e pode ser individualizada conforme epidemiologia e teste rápido – digam lá isto à generalidade dos médicos portugueses (incluindo do meu hospital)…só conheço um protocolo que respeita isto, o da infecciologia/UPCIRA do Hospital São João do Porto

    • A preferência por doxiciclina vs azitromicina divide opiniões: há argumentos a favor da doxi, mas é um fármaco de largo espectro que pode ser prudente reservar, sobretudo onde a resistência a macrólidos não é elevada e a necessidade de imunomodulação é menor.




ESTUDOS OBSERVACIONAIS

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PRIMÁRIOS - SUB-ANÁLISE / COORTE / CASO-CONTROLO / INQUÉRITOS / A. ECONÓMICAS

Diagnóstico e Raciocínio Clínico

n = 74 doentes (114 amostras respiratórias), coorte prospetciva observacional de um único centro (Guy’s & St Thomas’, Londres)

Introdução: As “culturas” são lentas e falham sobretudo para organismos fastidiosos; os painéis serológicos PCR “alvo‑dirigidos” são limitados no número e selecção de patógenos, deixando zonas cegas na UCI respiratória. A metagenómica pan‑microbiana (bactérias, fungos, vírus DNA e RNA num só ensaio) promete reduzir incerteza terapêutica no próprio dia.

Métodos: Implementação de serviço com workflow publicado para amostras respiratórias de adultos em UCI com falência respiratória e suspeita de infecção respiratória, sépsis de foco desconhecido ou patologia inflamatória.

Comparação com testes de rotina

Desfechos: Desempenho diagnóstico, patógenos adicionais detetados, alterações de antibiótico em 24 h e iniciação de imunomodulação.

Resultados: 107/114 (94%) amostras passaram QC; 101/107 (94%) tiveram pré‑relatório no dia. Sensibilidade em amostras do trato respiratório inferior a 24h: bactérias 97% (IC95% 87–100), fungos 89% (65–99), vírus 89% (71–98), com um falso‑positivo bacteriano. Identificaram‑se 42 patógenos adicionais em 32/107 (30%) amostras que a rotina não apanhou. Houve mudança de antibiótico após o resultado em 30/107 (28%): des‑escalou em 22 (21%) e escalou em 8 (7%). Contribuiu para iniciar imunomodulação em 15/74 (20%) doentes. Relevância para controlo de infceção/saúde pública em 10/74 (14%) doentes (p.ex., iGAS invasivo, parvovírus B19, HIV‑1, sarampo, M. tuberculosis, N. meningitidis, M. pneumoniae).

Comentário: Num único ensaio e sem “caça ao alvo”, a metagenómica deu respostas no própria dia e mudou condutas em cerca de um terço dos episódios — não só antibiótico (sobretudo desescalar), mas também decidir por imunomodulação quando o padrão era inflamatório (aqui fico com dúvidas do que falam – corticóide quando indicado, ou “invenções”?). É um pacote tentador para quem trabalha em SU, UCI e até enfermaria: menos incerteza, mais personalização e vigilância epidemiológica. Faltam, porém, desfechos duros (tempo de internamento, mortalidade), comparação directa “same‑day” vs TAT mais longo, avaliação de custo‑efectividade, gestão de contaminantes (talvez a maior desvantagem: especificidade) e validação multicêntrica.


n = 490; ocultação, não‑inferioridade (margem 5%); multicêntrico em 22 centros/12 países; 22–23

Introdução: Na suspeita de cancro da próstata (PSA elevado e/ou toque rectal anormal), há dúvidas se é necessário fazer uma RM extensa ou se basta uma mais pragmática abreviada para o diagnóstico histológico posterior.Métodos:

1.     RM abreviada “biparamétrica” (T2‑weighted + diffusion‑weighted), reportada primeiro com radiologistas ocultos à sequência DCE da RM completa.

2.     RM completa “multiparamétrica” (T2 + DW + DCE) reportada após desocultação

3.     Biópsia dirigida ± sistemática se RM (bip ou multip) sugestivas.

Resultados: RM abreviada não-inferior para o desfecho 1º de cancro clinicamente significativo (GGG ≥2): 29,2% vs 29,6%; diferença −0,4 pp (IC95% −1,2 a 0,4); p=0,50; margem NI 5%. Também, semelhante cancro clinicamente insignificante - 9,2% vs 9,6%; diferença −0,4 pp (IC95% −1,2 a 0,4) - e semelhante qualidade dos exames - 99% dos exames com qualidade diagnóstica adequada após controlo central.

Comentário: Ponto forte — ao omitir DCE, bpMRI poupa tempo e recursos sem sinal de perda diagnóstica quando a qualidade é alta e a leitura é experiente; porém, a leitura sequencial (bpMRI primeiro, depois mpMRI) pode introduzir viés de ordem/incorporação e não houve aleatorização formal por estratégia, pedindo cautela na extrapolação. A definição de “clinicamente significativo” (GGG ≥2) é debatida e pode perpetuar sobrediagnóstico, e centros com menor perícia podem ainda requerer RMmp para estadiamento/planeamento, mitigando os ganhos de capacidade. A generalização exige testes de qualidade com PI‑QUAL/PI‑RADS e radiologistas treinados; sem estes padrões, o desempenho de RMmp pode não replicar o observado no PRIME. Por outro lado, talvez não seja tão difícil de generalizar - não sou imagiologista, mas será tão difícil interpretar a RM sem a tal DCE?


Endocrinologia

n = 234 217 iniciantes de SSRI/venlafaxina, coorte populacional (Stockholm Sodium Cohort, 1,63 milhões), 2007-2017

Introdução: A hiponatrémia “profunda/grave” (definida aqui como <125 mmol/L) associada a antidepressivos serotoninérgicos tem sido descrita em estudos pequenos e heterogéneos. O impacto clínico em idosos é potencialmente grave, justificando avaliação em coorte ampla e com temporização do risco.

Métodos: Identificaram‑se iniciantes de SSRI/venlafaxina (2007–2017) e relacionou‑se a natrémia com a exposição, usando cada doente como seu próprio controlo (minimizando confundidores fixos).

Janelas de interesse (três): Primeiras 2 semanas; 0–3 meses; 12 meses pós‑início.

Definiu‑se hiponatrémia profunda/grave por natrémia<125 mmol/L.

Análises de sensibilidade: exclusão de tiazidas, restrição a utilizadores persistentes aos 1212 meses e análise separada SSRI vs venlafaxina.

Resultados: Ocorreram ~4.000 episódios em quase 250.000 iniciantes, com incidência após início de 3% nos 65–79 anos e 4% nos ≥80 anos - entre ≥80 anos, mulheres 66,5% vs homens 3,4%. O risco foi máximo nas primeiras 2 semanas (aOR 10,06; IC 5,97–17,00), elevou‑se nos primeiros 3 meses (aOR 4,29; IC 3,34–5,52) e atenuou aos 12 meses (aOR 1,30; IC 0,97–1,75); entre utilizadores que mantinham terapêutica ao fim de 1 ano, o efeito foi nulo (aOR 1,03; IC 0,66–1,61). Em análises separadas: SSRI aOR 4,36 e venlafaxina aOR 3,37. Excluindo tiazidas, o efeito manteve‑se (aOR 3,73). Notou‑se aumento de risco já no período imediatamente pré‑início (aOR 2,83), sugerindo viés de selecção (por exemplo, por comorbilidades).

Comentário: Sinal forte, precoce e biologicamente plausível para SIADH induzida por serotonérgicos, com risco particularmente marcado em mulheres e ≥80 anos (≈1/15 no primeiro ano). A estratégia autocontrolada reduziu confundidores estáticos, mas o pico de risco no período pré‑início faz suspeitar factores de confundimento dinâmicos (p.ex., doença aguda, polimedicação) e limita inferência causal “limpa” de viés. Ainda assim, a magnitude nas primeiras semanas (ordem de 10×) parece clinicamente importante. Por outro lado, o efeito parece atenuar após 1 ano (isto pode significar apenas que os 3 a 4 % de população que têm risco de SIADH com estes fármacos já os tenham descontinuado nessa altura…). Prática: dosear sódio basal e repetir em 7–14 dias, e ir repetindo, sobretudo nos primeiros 3 meses, até se completar 1 ano  sobretudo em idosos, mulheres, baixo IMC, insuficiência cardíaca/hepática/renal, dieta hipossódica ou uso concomitante de fármacos (tiazidas, carbamazepina/oxcarbazepina, sulfonilureias, desmopressina ou AINEs). Perante suspeita de hiponatrémia tardia em utilizadores estáveis, procurar outras causas antes de culpar o antidepressivo. Na escolha inicial, considerar moléculas alternativas com menor sinal de risco quando clinicamente viáveis, mantendo decisão partilhada risco‑benefício.


OPINIÃO

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REVISÃO NARRATIVA

Infecciologia, Microbiologia & Antimicrobianos

Revisão narrativa + 3 cenários hipotéticos, foco em farmacologia e papel “stepdown” após fase EV.

Introdução: Os β‑lactâmicos orais têm sido vistos por alguns como “fracos” para infecções sistémicas por Gram‑negativos, o que empurra esses alguns para FQ e TMP‑SMX apesar de resistências, interacções e efeitos adversos. Esta narrativa tenta desmontar a ideia de “classe homogénea”: cada fármaco tem biodisponibilidade e curvas de PK/PD distintas e devemos pensar no alvo a atingir e no foco infeccioso.

Métodos: Revisão narrativa ancorada em 3 casos:

1.     Pielonefrite com bacteriemia

2.     Infecção intra‑abdominal com drenagem parcial

3.     Bacteriemia por K. aerogenes/AmpC

Utilização de dados de biodisponibilidade, eliminação renal, modelos de %fT>MIC (tempo acima de MIC), limites práticos de MIC (CLSI vs EUCAST), “surrogates” (p.ex., cefazolina para cistite não complicada) e doses optimizadas.

Resultados:

1.     Caso 1 - Pielonefrite com bacteriemia por E. coli – Pensando apenas em eficácia, o ideal seria FQ/TMP‑SMX. Como queremos poupá-los, deveríamos usar cefalexina 1000 mg 6/6 h ou cefadroxilo 1000 mg 12/12 h, opções com melhor probabilidade de alvo do que cefpodoxima/cefuroxima/cefdinir – o problema é que em Portugal só temos cefuroxima (é verdade que não tem biodisponibilidade óptima, mas aumenta se a ingestão for depois de comer e tenho tido sucesso com este). Em alternativa, a amoxicilina/ácido clavulânico pode ser uma hipótese, dependendo de MIC e foco (risco em PT: taxa elevada de resistência de P. mirabilis e, sobretudo, K. pneumoniae quando prescrevemos empiricamente para uma ITU antes de culturas).

2.     Caso 2 – Infecção intra‑abdominal complicada por K. pneumoniae, pós‑drenagem - Quando FQ/TMP‑SMX não são opção, amoxicilina/ácido clavulânico pode ser “o menos mau” se MIC <8/2 (EUCAST), idealmente 875/125 mg 8/8 h - atenção ao tecto diário de clavulanato oral (500 mg), diarreia, imprecisão dos MIC nas margens (± 1–2 diluições) e elevada taxa de resistência deste micro-organismo à AAC.

3.     Caso 3 - K. aerogenes com AmpC - Evitar cefpodoxima como “ceftriaxone oral” (biodisponibilidade baixa, PTA (prob. de atingir alvo) pobre e risco de indução AmpC com falência). Se mesmo necessário, ponderar FQ, apesar de risco de convulsões, entre outros (balanço risco‑benefício favorável).

· Pilares PK/PD:

o  β‑lactâmicos pedem 30–60% de fT>MIC pelo que os orais são muitas vezes subdosados. Alvos agressivos

(100% 4×MIC) são inalcançáveis por via oral — papel de stepdown após redução de carga bacteriana.

o   Surrogates com cefazolina (ou seja, usar o resultado de sensibilidade da cefazolina como marcador

substituto para inferir sensibilidade de outras cefalosporinas orais) só vale para cistite não complicada por

E. coli/K. pneumoniae/P. mirabilis, não para infeção sistémica.

o   Cefalexina/cefadroxilo destacam‑se pela exposição sistémica/renal; cefpodoxima/cefdinir/cefuroxima aquém.

Comentário: Esta revisão tenta ajustar a via de antibiótico pelo fármaco em si, dose e intervalo ao MIC e ao foco - e não apenas à etiqueta “oral vs EV”. As falhas dos estudos observacionais podem reflectir coisas como subdosagem, o que é algo pertinente que a revisão levanta. Por outro lado, tenho receio que isto seja conversa demasiado “in vitro” que depois não se reflicta num ECA “in vivo”. Entre o OPAT e oral, deve entrar decisão partilhada: adesão, acessos, comorbilidades, controlo de foco e vigilância pós‑alta. Evitar extrapolações abusivas (p.ex., sensibilidade a ceftriaxone “predizer” cefpodoxima) e respeitar os critérios de MIC (EUCAST ou CLSI).



FOAMed

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Geral, Geriatria & Paliativos

Propanolol mínimo 90mg/dia: sim (pergunto-me se até menos). Pirimidona e topiramato: talvez.


Neurologia

RS demonstra (além de heterogeneidade) mediada de sobrevida de 5 anos desde o diagnóstico (varia consoante idade do mesmo, podendo ir aos 20 anos se aos 60 anos) e tempo médio até institucionalização de 3 anos.



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