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Outubro 2025 - #1 POCUSto-efectivo

Atualizado: 24 de out.

No substack: esFOAMeados No patreon: esFOAMeados Em podcast: Hipótese Nula


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TABELA DE CONTEÚDOS




SINOPSE


🎂 Nata da nata

- ECAs --> Muitas falhas nos registos, continuação e (sobretudo) publicação (JAMA Network Open)


🍰 Nata

- POCUS --> Reduziu tempo de internamento e custos num ambiente de hospitalistas americanos (JAMA NetOpen)

- RS c/ polipose Nasal e Asma --> Dupilumab supeior a Omalizumab! De louvar comparação. (EVEREST, Lancet RM)

- HTP --> Sotatercept eficaz ou mais mortes? (HYPERION, NEJM)

- Dispneia crónica --> Morfina PO LM 5-10mg bid não eficaz (MABEL, Lancet RespMed)

- Bronquiectasias não-FQ --> Soro e Carbocisteína não eficazes (CLEAR, NEJM)


🧾Receita

- Hiperaldosteronismo primário (JCEM)


🧐 Observações

- Primários: OMI/NOMI e Bayes (Diagnostics) | Machine learning ajudou no diagnóstico de S. Sjögren após biópsia das glândulas salivares (Lancet Rheuma) | Consenso entre americanos para ensino POCUS na Medicina Interna (AIM) | POCUS e punção lombar (JHM) | POCUS e PCR (AEM)

- Casos e séries: S. de Elsberg (S. cauda equina pós-meningite) | Fibroelastoma da v. aórtica | POCUS na largada de balões | Sinal de louva-a-Deus na toxicidade a manganésio



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REVISÕES SISTEMÁTICAS de ECAs

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Meta-investigação & MBE

n = 347 ECAs; revisão sistemática de meta‑investigação (ASPIRE); Reino Unido, Suíça, Alemanha, Canadá; protocolos aprovados em 2016 com seguimento até 2024;

P — Protocolos de ECAs aprovados por comités de ética em 4 países de alto rendimento.

I — Patrocínio industrial e práticas de registo/reporte de resultados avaliadas de forma observacional.

C — Ensaios não‑industriais como referência para comparações exploratórias.

O » Proporção de não registo 5,8%

    » Descontinuação 31,1% (por recrutamento fraco em 45,4% dos descontinuados)

    » Resultados disponíveis publicamente 79,5%.

    » Indústria vs não‑indústria: resultados disponíveis 92,3% vs 66,3% | reporte em registos 84,5% vs 10,2%; descontinuação por fraco recrutamento aOR 0,320,32 (IC95%95% 0,150,15–0,710,71) a favor da indústria.

Comentário: O filme é conhecido e pouco lisonjeiro — pouca evolução face aos anos passados, com uma fatia teimosa de ECAs interrompidos e resultados ausentes, sobretudo fora da indústria, o que infla viés de publicação e corrói a base das RS/MAs que informam prática e políticas. A “vantagem” da indústria parece vir do cumprimento de reporte em registos, que não se deve confundir com qualidade e escrutínio de publicação revista por pares - útil para transparência mínima, insuficiente para avaliação aprofundada. Generalização limitada a quatro países e a protocolos de 2016, com possibilidade de confundimento residual nas comparações indústria vs não‑indústria (escala, rede, área terapêutica), apesar do desenho pré‑especificado e contactos com comités para clarificação.

Conclusão: Persistem falhas basilares — não registo, descontinuação por recrutamento e não divulgação — nos ECAs.




ENSAIOS CONTROLADOS E ALEATORIZADOS

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Cardiovascular

n = 320; duplamente‑oculto, multicêntrico; Merck Sharp & Dohme; seguimento ~13,2 meses c/ interrupção precoce

P — Adultos com HAP OMS II–III, diagnóstico há <1 ano, risco intermédio/alto, sob dupla ou tripla terapêutica base.

I — Sotatercept SC q21 dias: início 0,3 mg/kg, escalonado até 0,7 mg/kg, como terapêutica de adição.

C — Placebo q21 dias, sobre terapêutica de base idêntica.

O 1º » MENOR agravamento clínico* — 10,6% vs 36,9%; HR 0,24 (IC95% 0,14–0,41); p<0,001.

*tempo até 1.º evento composto: morte, internamento não planeado ≥24 h por HAP, septostomia, transplante pulmonar, ou deterioração em teste de esforço por HAP

    2º » Menor deterioração no desempenho em prova de esforço 5,0% vs 28,8%

Menos internamento não planeado 1,9% vs 8,8%

Mais óbitos 4,4% vs 3,8%

Mais epistáxis 31,9% e telangiectasias 26,2%

Comentário: À primeira vista, veríamos “grande e absoluto benefício” em doentes recentes com HAP sob dupla/tripla base…mas, como sempre, peço calma. Primeiro, a interrupção precoce sobrestima o efeito. Segundo, o desfecho primário composto combina coisas muito diferentes (como deterioração em teste de esforço e morte). Terceiro e sobretudo, fico preocupado com o sinal para maior mortalidade, que até pode ser sinal, mas lá está: suspender ensaios precocemente, a não ser que haja uma categórica, clara e estrondosa redução de desfechos como mortalidade, deixa-nos com mais dúvidas que respostas no final do ensaio. Ainda por cima, temos até uma possível explicação: mais epistáxis/telangiectasias e alterações hematológicas, que podem ter levado a complicações e morbilidade. Para finalizar, queria recuar até ao ZENITH, publicado há uns meses no NEJM, que testou o fármaco na também na HAP WHO III e IV. Supostamente, foram os resultados deste que ditaram a suspensão do HYPERION...mas....calma de novo meus amigos: neste, ainda menos doentes foram incluídos (<200) e o ensaio também foi suspenso precocemente. Ou seja, andamos aqui numa teia sem fim de suspensões precoces e multiplicação de incerteza.

Conclusão: Na HAP ≤1 ano, acrescentar sotatercept à reduziu alguns desfechos...mas mais óbitos???


Geral, Geriatria & Paliativos

n = 143 (11 centros no Reino Unido); duplamente‑oculto, paralelo, titulação de dose; Público (NIHR); 2021-23

P — Dispneia crónica com mMRC ≥3 por doença cardiorrespiratória com laxante oculto em ambos os braços.

I — Morfina oral libertação mod. 5–10 mg bid 56 dias, + laxante oculto, escalonamento por resposta (dose‑titration).

C — Placebo correspondente 2×/dia por 56 dias, com laxante oculto, mesmos procedimentos.

O 1º » IGUAL dispneia (NRS, últimas 24 h) no dia 28 — 6,19 (IC95% 5,57–6,81) vs 6,10 (5,44–6,76); dif. média ajustada 0,09 (−0,57 a 0,75); p=0,78 (sem benefício).

    2º » Igual actividade física moderada‑vigorosa no dia 28: +9,51 min/dia (0,54–18,48) antes de correcção por múltiplas medições; não significativo após correcção.

        » Menos Tosse (NRS) no dia 56: −1,41 (−2,18 a −0,64) a favor da morfina.

        » Igual Qualidade de vida e restantes secundários: sem diferenças consistentes entre grupos.

        » Pior Segurança: mais EA (251 vs 162), mais EAG (15 vs 3; 3 relacionados no braço morfina, 0 no placebo), mais abandonos do fármaco (13 vs 2); sem óbitos relacionados.

Comentário: Se não me engano, já havia evidência em população semelhante da fraca eficácia da morfina na dispneia crónica. Agora temos ensaio de fase 3 relativamente bem desenhado apesar de amostra pequena, com titulação e seguimento até 8 semanas, não mostrou melhoria da dispneia máxima aos 28 dias, apesar de sinal tardio em menos tosse e um aumento modesto de actividade que não resistiu a correcções estatísticas, enquanto o braço morfina acumulou mais eventos adversos e descontinuações. A discrepância entre dados laboratoriais/curto prazo e a prática clínica sustentada sugere que, na dispneia crónica, a morfina de baixa dose não oferece benefício clínico robusto que compense o ónus de toxicidade e gestão, pelo menos neste horizonte temporal e população. Muita cautela: não comparar isto com doentes com dispneia refractária grave, sobretudo com objectivo de cuidados dirigido ao conforto.

Conclusão: Não há evidência de que morfina oral LM melhore a pior dispneia aos 28 dias na dispneia crónica.


Pneumologia

n = 360 (819 rastreados); duplamente-oculto; 100 centros em 17 países; Indústria (Sanofi/Regeneron); 2021-24

P — CRSwNP (sinusite crónica c/ polipose nasal) grave e Asma - NPS ≥5 (≥2 por narina) e congestão + perda de olfacto (UPSIT) ≥8 semanas.

I — Dupilumab 300 mg SC q2s + mometasona intranasal de base, 24 semanas.

C — Omalizumab SC doseado por peso/IgE q2–4s + mometasona intranasal de base, 24 semanas.

O 1º » MELHORES sintomas às 24S —NPS −1,60 (IC95% −1,96 a −1,25; p<0,0001) e UPSIT +8,0 (6,3 a 9,7; p<0,0001).    2º » Menos congestão nasal: −0,58 pontos (p<0,0001).

        » Menos Perda de olfato: −0,81 pontos (p<0,0001).

        » Menos gravidade global de sintomas: −1,74 pontos (p<0,0001).

        » Melhor QdV (relacionada com rinossinusite): +12,7 pontos (p<0,0001).

        » Melhor Pico de fluxo inspiratório nasal: +31,27 (p<0,0001).

        » Melhor Função pulmonar (FEV1 pré-BD): +150 mL; p=0,003; controlo da asma: +0,48; p<0,0001.

       » Semelhante Segurança - EA 64% vs 67% ; EA graves 2% vs 4%; descontinuação 3% vs 1%; sem óbitos.

Comentário: Primeiro head‑to‑head de biológicos respiratórios com desenho robusto e ocultação, mostrando superioridade consistente de dupilumab em desfechos nasais (tamanho dos pólipos, olfatco) e pulmonares, com segurança comparável. Critérios de inclusão (elegibilidade de dose de omalizumab) e uso padronizado de mometasona dão rigor ao estudo mas podem limitar a generalização fora desses parâmetros e do horizonte temporal de 24 semanas.

Conclusão: Na CRSwNP grave com asma, dupilumab foi superior a omalizumab aos 24 semanas em eficácia “nasal e asmática”


n = 288; aberto, factorial 2×2; 20 centros no Reino Unido; Público; 2017–24

P —Bronquiectasias não‑FQ, exacerbações pulmonares e expectoração diária; fumadores e uso de mucoactivos excluídos.

 I — Solução salina hipertónica 6% nebulizada 2×/dia e/ou carbocisteína oral, em desenho factorial 2×2.

C — Cuidados padrão sem o agente correspondente (SSH vs não‑SSH; carbocisteína vs não‑carbocisteína).

O 1º » IGUAIS Exacerbações às 52 semanas

— SSH 0,76 (IC95% 0,58–0,95) vs 0,98 (0,78–1,19); Δ ajustada −0,25 (IC95% −0,57 a 0,07); p=0,12;

— Carbocisteína 0,86 (0,66–1,06) vs 0,90 (0,70–1,09); Δ −0,04 (−0,36 a 0,28); p=0,81 (sem redução significativa). 

     2º » Sem interacção entre tratamentos

 Sem diferenças clinicamente relevantes de segurança global

Comentário: Ensaio pragmático, multicêntrico e com adjudicação de exacerbações, tenta responder a uma lacuna das guidelines sobre mucoactivos nas bronquiectasias, mas o resultado negativo sugere que nem o soro hipertónico 6% nem carbocisteína devem ser usados rotineiramente para prevenir exacerbações, atendendo ao ónus de tempo/custos e potencial de Polimedicação e eventos adversos. A inclusão de doentes com ≈1 exacerbação/ano em média pode ter reduzido o poder para detectar benefícios e limita a generalização a populações de maior risco, existindo a possibilidade de o fenótipo ditar a estratégia (mas nem isso sabemos). Também seria útil desfechos centrados em sintomas e alívio e não só a prevenção de exacerbações.

Conclusão: Nas bronquiectasias não-FQ, nem soro hipertónica 6% nem carbocisteína reduziram exacerbações.


POCUS

n = 208; stepped‑wedge, centro terciário nos EUA; Público; 2023-24

P — Adultos ≥18 anos internados em equipas de medicina interna com dispneia indiferenciada.

I — POCUS estruturado integrado na avaliação, por hospitalistas e/ou técnicos de sonografia

C — Cuidados habituais sem protocolo POCUS.

O 1º » MENOR duração de internamento (LOS) — redução esperada 30,3% (IC95% 5,5–48,9); TdE médio 8,3 vs 11,9 d

    2º » Redução acumulada de 246 camas‑dia

         » Poupança directa de $751 537; razão custo‑efectividade incremental $3 055 por cama‑dia poupada.

         » Mudou decisões clínicas em 35% dos casos.

         » Adopção limitada – exames feitos autonomamente apenas por 20% dos hospitalistas

Comentário: Neste ensaio escalonado em que as equipas de hospitalista foram progressivamente aleatorizadas para avaliação integrada por POCUS, a implementação colaborativa de POCUS encurtou internamento hospitalar e custos, mas não esquecer que foi um estudo de implementação num único centro, dependente de sonógrafos e com possível viés de desempenho. Seria muito bom haver replicação multicêntrica e incentivos para mais médicos autónomos.

Conclusão: POCUS cardiopulmonar integrado reduziu LOS e custos na dispneia indiferenciada.


NORMAS DE ORIENTAÇÃO CLÍNICAS - GUIDELINES

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Doente crítico/urgente


Endocrinologia

Publicado em julho de 2025, actualização de 2016, com metodologia GRADE

Essencial

  • Recomenda-se rastrear HP em todas as pessoas com hipertensão com aldosterona, renina e rácio aldosterona/renina (ARR), com preparação laboratorial adequada e interpretação condicional GRADE.

  • O tratamento deve ser específico para HP (médico ou cirúrgico), orientado por lateralização, elegibilidade cirúrgica e preferências do doente.

Recomendações‑chave

  • Rastreio universal em hipertensão: medir aldosterona e renina e calcular ARR para aumentar a identificação de HP e permitir terapêutica dirigida.

  • Teste confirmatório: realizar teste de supressão de aldosterona quando a probabilidade é intermédia e existe intenção real de explorar via cirúrgica.

  • Teste de lateralização: usar TC adrenal e amostragem venosa adrenal antes de decidir entre cirurgia e terapêutica médica quando a unilateralidade é provável ou após confirmação por supressão.

  • Terapêutica médica: preferir antagonistas do receptor mineralocorticoide (ARM) a inibidores do ENaC; espironolactona por custo/disponibilidade, ponderando alternativas mais específicas quando necessário.

  • Alvo fisiológico: monitorizar renina sob ARM e, se persistir hipertensão com renina suprimida, aumentar ARM para elevar renina.

  • Adenoma adrenal: realizar teste de supressão com 1 mg de dexametasona para detetar co-secreção de cortisol com impacto terapêutico.

Aplicação prática

  • Organizar via laboratorial célere e implementar algoritmos de rastreio universal com auditoria local de falsos positivos e tempos de resposta.

  • Para candidatos a cirurgia com probabilidade de unilateralidade, planear TC e AVS (teste de lateralização) em centros com experiência, integrando equipa multidisciplinar e decisão partilhada documentada.

  • Sob ARM, monitorizar potássio/creatinina e usar renina como marcador de dose adequada; ARM mais específicos quando surgem efeitos adversos

Comentário:

  • A “sugestão” de rastreio universal equilibra subdiagnóstico e carga operacional; o ganho dependerá de capacidade laboratorial, formação e acesso a AVS.

  • O foco no alvo fisiológico (renina) é pragmático e centrado em fisiopatologia, mas faltam ensaios pragmáticos orientados a desfechos orientados ao doente

  • Persistem lacunas em comparações cirúrgico vs médicas por subgrupos e em padronização de cutoffs e métodos laboratoriais, justificando vigilância pós‑implementação e estudos multicêntricos.



ESTUDOS OBSERVACIONAIS

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PRIMÁRIOS - SUB-ANÁLISE / COORTE / CASO-CONTROLO / INQUÉRITOS / A. ECONÓMICAS

Cardiovascular

n = 5 casos clínicos consecutivos com discordância diagnóstica; modelo derivado de bases de vigilância de SU dos EUA + séries angiográficas contemporâneas

Introdução: Regras milimétricas de supra-ST (“STEMI”) falham em >50% das oclusões coronárias. Reenquadrar o enfarte agudo do miocárdio como OMI (Occlusion MI) / OCA (Oclusão coronária aguda) vs. NOMI / NOCA e aplicar raciocínio Bayesiano pode encurtar o tempo até reperfusão e evitar activações desnecessárias da hemodinâmica.

Métodos:

1) Prevalências basais de OMI estratificadas por idade/sexo;

2) Ajuste da probabilidade pré-teste com razões de verosimilhança (LRs) de dor torácica e factores de risco;

3) Segunda atualização usando (a) sensibilidade/especificidade do critério clássico de supra-ST ou (b) espectro alargado de padrões ECG de OMI.

Limiares definidos:

- >10% pós-teste para cateterismo imediato

- >75% para trombólise se angiografia indisponível.

A estrutura foi aplicada a cinco casos reais.

Resultados: O quadro Bayesiano reclassificou três ECGs rotulados “NSTEMI” para probabilidade OMI intermédia-alta (27–65%), desencadeando reperfusão imediata; todos depois confirmados com artéria totalmente ocluída. Um 4º doente com dor típica e ECG normal manteve probabilidade de 17% e revelou oclusão da CX. O 5º caso (“South-African Flag”) subiu a 75%, mas caiu após POCUS e troponinas normais.

Comentário: Sobrepor contexto pré-teste a LRs específicas de sinais ECG converte a leitura binária STEMI em cálculo probabilístico transparente. O paradigma OMI/NOMI + Bayesiano detectou oclusões ocultas que os critérios clássicos ignoraram, potencialmente reduzindo mortes por atraso na reperfusão e evitando fibrinólise/ICP desnecessárias. Incorporar o padrão OMI/NOMI com raciocínio clínico com probabilidade pré-teste, LR e probabilidade pós-teste, com auxílio de POCUS e troponinas, será provavelmente o futuro padrão-de-ouro.


Imuno-mediadas

n = 545 doentes, coorte retrospectiva, 6 centros (RU×3, Grécia, Portugal, França), out 2021–set 2024

Introdução: A classificação da doença de Sjögren depende em parte do focus score (FS) calculado após biópsia de glândula salivar menor, mas a reavaliação por especialistas reclassifica cerca de metade dos casos, expondo variabilidade interobservador e a necessidade de aumentar e automatizar padronização.

Métodos: Lâminas H&E digitalizadas foram usadas para treinar um modelo de deep learning com validação externa leave-one-centre-out.

Desfechos primários foram AUROC para classificar FS (≥1 vs <1) e para classificar D. de Sjögren

Usaram-se Shapley values para explicar padrões histológicos que mais contribuíram para as previsões.

Resultados: Após validação externa, a AUROC foi 0,88 (IC95% 0,82–0,94) para classificar o FS e 0,89 (0,82–0,94) para classificar Sjögren; em doentes anti-SSA negativos, a AUROC para diagnóstico foi 0,92 (0,87–1,00). Adicionalmente, o modelo identificou um padrão novo de infiltração por linfócitos T CD8+ periacinares associado ao diagnóstico de Sjögren.

Comentário: Um sistema que chega a uma acuidade com AUROC ~0,9 em validação externa, especialmente com desempenho reforçado em população com anti‑SSA negativos, tenta colmatar um problema real—variabilidade e atrasos na leitura do FS—e pode reduzir reclassificações tardias. Conudo, o trabalho continua retrospectivo, dependente de H&E e da harmonização de scanners, cortes e colorações. A descoberta de um padrão CD8+ periacinar é biologicamente plausível e geradora de hipóteses, mas requer validação imuno-histoquímica e estudos multicêntricos prospectivos, bem como avaliação de calibração, generalização entre laboratórios e impacto clínico (tempo até diagnóstico, concordância homem‑máquina e custo‑efetividade).


POCUS

Developing Point-of-Care Ultrasound Curricula for Internal Medicine Residency Programs | Annals of Internal Medicine

n = 21 líderes em educação POCUS, Delphi modificado (3 rondas), inquéritos online (EUA), 12-12-2023 a 05-05-2024.

Introdução: Apesar da adopção crescente de POCUS nos internatos de Medicina Interna, falta algum consenso sobre quais competências ensinar, como ensiná-las e como avaliar os internos de forma rigorosa e reprodutível.

Métodos: Recrutaram-se peritos em liderança, experiência docente em cursos POCUS e/publicações na área, que estratificaram a importância de competências, métodos pedagógicos e estratégias de avaliação em escala Likert, com definição de consenso quando IQR ≤1 e pelo menos 70% de classificações 4–5, ao longo de três rondas Delphi.

Resultados: Após as três rondas, 53 de 103 competências (51%), 14 de 35 métodos de ensino (40%) e 5 de 9 estratégias de avaliação (56%) atingiram consenso para inclusão, cobrindo domínios pulmão (25%), abdominal (23%), procedimentos (23%), cardíaco (17%), musculoesquelético (9%) e vascular (4%), com nota de menor aplicabilidade em contextos com poucos recursos e formação predominantemente ambulatória.

Comentário: Como documento de consenso Delphi, o trabalho oferece um resumo programático pragmático e padronizado para programas de internato, mas permanece nível de evidência “E” (baseado em opinião de especialistas) com risco de viés de seleção (58% de adesão) e centrado nos EUA, exigindo validação externa, métricas de impacto educacional e estudos de implementação em cenários com recursos limitados. No entanto, pode-se dizer que temos mais um passo para um consenso entre americanos (uns dos líderes mundiais no ensino POCUS) a definir um núcleo de competências POCUS, métodos instrucionais e estratégias de avaliação considerados essenciais para currículos de Medicina Interna.


n = 269, coorte retrospectiva “antes e depois”, Hospital Medicine Procedure Service (University of Minnesota)

Introdução: A punção lombar à cabeceira, guiada por palpação na linha média, tem taxas de insucesso relevantes. A abordagem paramediana assistida por ecografia (janela acústica paramediana) poderá aumentar o sucesso e reduzir encaminhamentos para Neurologia e Neurorradiologia (nunca vi para esta última).

Métodos: Implementou-se treino padronizado em abordagem paramediana assistida por ecografia e comparou-se a probabilidade de sucesso com a técnica habitual de linha média (midline) no período pré-intervenção. Análise ajustada para sexo, idade, IMC e indicação (incl. quimioterapia).

Resultados: 269 LPs; sucesso pré-standardização 72,6% vs pós-standardização 85,4%. Diferença de risco ajustada +13,6 pontos percentuais (IC95% 2,8 a 24,4; p=0,014). Maior odds de sucesso com ecografia e menor necessidade de Neurorradiologia, com perfis de coagulação e complicações semelhantes.

Comentário: Confesso que não uso (tentei uma vez, mas teria de treinar mais), mas ecografia na PL parece ser útil: mais sucesso, menos punções, menos complicações locais e menos tempo, como já sugeria uma meta‑análise de 2019 (OR ~2,22; +9% de sucesso; -16% de punções traumáticas). A padronização da abordagem paramediana eco‑assistida em equipas de procedimentos hospitalares parece um alvo fácil de implementação com retorno de eficácia, eficiência e qualidade. Para o futuro, precisamos de ECAs.


n = 811 doentes, prospetivo multicêntrico, 28 Sus nos EUA, ECG e ecocardiografia simultâneos c/, leitura oculta

Introdução: A FV costuma ser um diagnóstico eletrocardiográfico, mas a ecocardiografia consegue visualizar fibrilhação miocárdica. O que fazer quando o ECG mostra ritmo não desfibrilhável (AESP/assistolia) e a eco mostra FV?

Métodos: Elegíveis doentes pós‑PCR pré‑hospitalar com ECG+eco simultâneos; ficheiros revistos por médicos ocultos à clínica.

Desfecho primário: percentagem de FV oculta (eco‑FV com ECG não desfibrilhável).

Secundários: terminação de FV após choque, ROSC e alta hospitalar. Modelos multivariáveis ajustaram confundidores.

Resultados: FV oculta em 5,3% (IC95% 3,9–7,1). Além disso, 24,9% tinham FV no ECG. Entre FV oculta, 81,4% tinham AESP e 18,6% assistolia no ECG. A FV oculta foi menos alvo de desfibrilhação do que a FV “de ECG”. A desfibrilhação não mostrou diferença significativa em terminação da FV oculta (75,0% vs 55,6%). ROSC semelhante entre FV oculta e FV de ECG (39,5% vs 24,8%). Sobrevida à alta também semelhante (7,0% vs 5,4%), apesar de menos choques na FV oculta.

Comentário: Cerca de 1 em cada 20 pós‑PCR chega ao SU com “ritmo não desfibrilhável” no ECG mas com FV na ecocardiografia — um achado que muda a conduta à cabeceira. A implicação é prática: em PCR com AESP/assistolia, vale a pena confirmar janela subxifoide em cada ciclo; se houver fibrilhação miocárdica, desfibrilhar. O estudo não prova benefício em mortalidade, mas mostra que tratar a FV oculta alinha os desfechos com a FV reconhecida, além de reduzir atrasos terapêuticos. Integração disciplinada de eco nos intervalos de compressões pode evitar falhas de reconhecimento críticas sem prejudicar a RCP de alta qualidade.

CASOS CLÍNICOS e SÉRIES DE CASOS

Cardiovascular

Vejam as imagens!


Neurologia

O título diz tudo.

Sinal de louva-a-Deus!


Pneumologia

Mais uma vezes, vejam as imagens.



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