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Junho 2024 - #2 STOP-PASCXLOVID

No substack: esFOAMeados No patreon: esFOAMeados Em podcast: Hipótese Nula



TABELA DE CONTEÚDOS

 

SINOPSE


🎂 Nata da nata

- ECAs na Hematologia --> Desfechos relatados por doente...muito muito aquém!... (JAMA Network Open)

- ECAs na Neoplasia da próstata avançada --> Inibidores dos androgénios com mais RCV incluindo morte CV (JAMA O)


🍰 Nata

- Fractura do tornozelo --> Carga no membro precoce superior que atrasada (WAX, Lancet)

- Hematoma subdural crónico --> Trepanação sem irrigação não melhor nem pior (FINISH, Lancet)

- Cirurgia Cardíaca --> Infusão de aminoácidos reduziu a LRA pós-cirurgia (PROTECTION, NEJM)

- TCE e Dor Crónica --> Intervenção colaborativa com TCC eficaz em reduzir dor (JAMA Network Open)

- Tirzepatido --> Eficaz na perda de peso em chineses (SURMOUNT-CN, JAMA)

- Pancreatite Crónica --> Litotrícia extra-corporal e dilatação do ducto sem grande eficácia (AIM)

- Paxlovid --> SEM MELHORIA no "COVID-longo" (STOP-PASC, JAMA Internal Medicine)

- AVC não-cardioembólico --> Apesar do spin, colchicina não convence (CONVINCE, Lancet)


🧾Receita

- IA nos Cuidados de Saúde (ACP - AIM)


🧐 Observações

- Revisões sistemáticas: FA pós-CABG e NOAC

- Primários: Canábis e risco de arritmias | Neutropenia e sépsis na UCI | Infecções de enxerto vascular | Infecciologistas norteamericanos e abt PO nas inf. OA | Enterococcus não-faecalis/não-faecium | PCR e práticas de emergencistas | 1º ep. psicótico com sintomas negativos | Restrições durante pandemia COVID-19 e eficácia

- Casos e séries: Anemia hemolítica e cirrose | Estriatopatia diabética (hiperglicémia e hemicoreia/hemibalismo) | Def. de transcarbamilase de ornitina e encefalopatia no adulto | Estrongiloidíase disseminada e sinal da impressão digital | TAFRO e LMC | Semaglutido e Podocitopatia-Doença de lesão mínima | aGLP-1 e Cetoacidose diabética euglicémica | Neuroestimulação medular na nevralgia pós-herpática refractária | Intoxicação com ferro e hepatite aguda fulminante


Opiniões

- Revisão narrativa: POCUS e infecciologia | Inteligência Artificial e aplicação clínica

- Perspectiva: Estudos observacionais de vacinas COVID19 e vieses | Melanoma metastático e imunoterapia em PD-L1=>1% | Regras de censoring da FDA

- Notícias: Escândalo das 3.000 mortes por transfusões de sangue infectado no NHS (anos 70-90) | OMS e orientações para prevenção de infecção de catéter |


🌎FOAMed

Cochrane e mudança de paradigma (TTE) | Vacina anti-COVID19 da Pfizer e desfecho de mortalidade (TTE) | Importância de grupos de controlo adequados | Journal Club em Oncologia


 

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REVISÕES SISTEMÁTICAS de ECAs

Hematologia

90 ECAs, pesquisa: 8 journais de maior impacto na hematologia, 2018-2023

P - Neoplasia hematológica maligna em adultos (ECAs de fase 3)

IC - Intervenções (excepto condicionamento pré-TxMo, doença enxerto vs hospedeiro, RT)

O » Desfecho relatado por doente, DRD (PRO=Patient-reported outcome)

DRD em 70%...mas reportado em apenas 40% e como desfecho 1º em apenas 1%

*ECAs livres de indústria mais provávveis de incluir DRD...mas sem mais reporte

*D. dos plasmócitos e mieloproliferativas com mais DRDs

» DRD melhorado em apenas 9% dos totais / 30% dos reportados

Comentário: Acho que não é preciso comentar, os resultados falam por si. Não costuma haver muita discusão de que os desfechos de qualidade-de-vida medidos de forma rigorosa e de preferência a incluir relato pelo próprio doente são dos desfechos mais relevantes que queremos, a par da sobrevida geral, toxicidade, etc. É triste quando lemos estes estudos que nos dizem o que os investigadores andam a fazer. Neste caso, muito aquém do desejável.

Conclusão: Desfechos relatados por doente em apenas 40% dos artigos de ECA e como primário em apenas 1%.


Oncologia

24 ECAs / n=22.166, PROSPERO/PRISMA, várias bases de dados, até 05/2023

P - Neoplasia avançada da próstata

IC - Inibidores da sinalização dos receptores de androgénio - abiraterona, apalutamida, darolutamida, enzalutamida

O 1º » MAIS eventos CV - RR 1.75 (1.50-2.04); P < .001 | MAIS eventos CV graves - RR 1.75 (1.50-2.04); P < .001

2º » Mais mortalidade CV, SCA, eventos cérebrovasculares, disrritmias e hipertensão

Comentário: Ui...cuidado. Embora os autores alertem sobretudo para o rstreio e monitorização do risco CV destes doentes, eu fico é preocupado com a maior mortalidade CV, além do resto. Sendo esta a principal causa de morte na população geral...qual será então o impacto destes fármacos na mortalidade total? Não percebo mesmo porque não relataram a mortalidade total aqui...hmm...

Conclusão: Inibidores dos receptores de androgénios com quase o dobro de risco CV, incluindo mais mortalidade CV.



 

ENSAIOS CONTROLADOS E ALEATORIZADOS


Cirurgia, Ortopedia & MFR

n=561, não-oculto, 23 centros no Reino Unido, 2020-2021

P - Fractura do tornozelo instável + Sensação protectora (= sem neuropatia) + Sem artrodese

I - Reabilitação com carga no membro precoce

C - Reabilitação com carga no membro adiada

O 1º » MELHOR função do tornozelo - 66 vs 61 no OMAS, aMD 4·47 (0·58-8·37), p=0·024 / sAD 4·42 (0·53-8·32), p=0·026

2º » Igual/mais custo-efectividade - 725 vs 785 libras, dif. média de 60 libras (-342 a 232), prob. de superioridade 80%

Comentário: Espetáculo. Adoramos quando a prova nos diz algo sobre a nossa vida pessoal não é? Pois bem, justo agora que a minha mulher teve uma lesão no tornozelo ligeira e, por estarmos de férias e sem grande acesso a quem sabe do tema, cometi a diligência de encarregar-me do assunto e pô-la a paracetamol, diclofenac tópico, gelo e carga precoce consoante a tolerância. Nesta minha experiência pessoal de grau 0 de evidência correu bem (...e sim, calma, acho que ela talvez não tenha tido fractura...sim, história batoteira). Terá sido acaso? Estes investigadores britânicos acabam de publicar um ECA a estudar precisamente o benefício da carga-precoce. Havia cada vez mais dúvidas sobre atrasar a carga no membro, espelhadas nesta RS recente da Cochrane, mas não tínhamos ECA grandes. Este foi um pouco maior e foi não-inferior / superior. Não foi espetacularmente superior...mas se, pelo menos, não é pior, acho que todos queremos voltar à vida normal o mais cedo possível (a minha mulher que o diga...e o seu marido também!).

Conclusão: Carga precoce após fractura do tornozelo instável levou a melhor função do tornozelo (e talvez maior custo-efectividade).


n=589 (1.664 rastreados), ITT, NIT, não-oculto, pragmático, 5 UCI-neurocríticos na Finlândia, 2020-2023

P - Hematoma subdural crónico a necessitar de trepanação ("burr-hole drainage")

I - Trepanação sem irrigação subdural

C - Trepanação com irrigação subdural

O 1º » IGUAL/MAIS re-operação aos 6 meses - 18.3 vs 12.6 %, ARA 5.7 % (0·2–11·7; p=0·30; ajustado a local)

    2º » Igual/mais mRS - 13.1 vs 12.6 %, p=.89 | Igual/menos mortalidade - 6.1 vs 7.1 %, p=.58

» Iguais EAs » Mais infecções sistémicas (8.8 vs 7.5 %) e hemorragia IC (4.4 vs 2.4 %) / Menos epilepsia (1.7 vs 3.1 %)

Comentário: A cirurgia de trepenação envolve 3 passos: i) buraco no crânio, ii) irrigação do espaço subdural e iii) colocação de dreno subdural. Mas será a irrigação essencial? Neste ECA, não se pode concluir não-inferioridade com não-irrigação, pois houve um aumento numérico substancial de mais cirurgia. Agora...acreditanto nesta tendência não estatisticamente significativa...porque não acreditar na tendência para menos mortalidade e melhor funcionalidade? Sim, é estranho isto poder ser uma realidade. O aumento de epilepsia explicaria (irrigação local favorece epilepsia?)? Não sei. Depois disto, gostaria de ver um ECA maior e multi-cêntrico em vários países com eventual menos limitação de selecção (apenas 36% dos rastreados foram incluídos).

Conclusão: Trepanação no hematoma subdural crónico sem irrigação não-claramente melhor...nem pior.


Doente crítico/urgente

n=3.511, duplamente-oculto, multicêntrico em 22 centros de Itália (++), Croácia e Singapura, 2019-2024

P - Cirurgia cardíaca com bypass cardiopulmonar

I - Solução mista de aminoácidos EV (Isopuramin 10%) 2g/kg/d (máx 100g/d)

C - Solução de Ringer EV

O 1º » MENOS LRA (KDIGO) - 26.9 vs 31.7 % / RRA 4.8 % / NNT 21, RR 0.85 (0.77 a 0.94); P=0.002

2º » Menos LRA Grave (KDIGO III) - 1.6 vs 3 % / RRA 1.4 % / NNT 71, RR 0.56 (0.35 a 0.87)

» Igual/menos? TSR - 1.4 vs 1.9 %, RR 0.73 (0.43 a 1.22)

         » Iguais dias de VM, UCI e internamento | Igual mortalidade

         » Igual/mais? FA - 33 vs 30.8 % / ARA 2.2 % / NNH 45, RR 1.07 (0.97 a 1.18), p=.16

         » Igual/mais? FV - 0.9 vs 0.5 % / ARA 0.4 % / NNH 250, RR 1.77 (0.78 a 4.00), p=.16

         » Tendência numérica para mais revisão cirúrgica por hemorragia, AVC e re-entubação

Comentário: Já tinham ouvido falar de proteína para prevenir lesão renal? Eu nunca, mas pelos vistos havia por aí uns estudos a hipotetizar mais fluxo renal e menos feedback tubloglomerular com menor resistência na arteríola aferente. À primeira vista, uma infusão de aminoácidos parece excelente pois reduziu o desfecho primário de lesão renal aguda, e até o secundário de lesão renal aguda grave foi reduzido (o de menos diálise teve quase quase). Mas não sei o que intepretar no final de uma leitura mais cautelosa. Em primeiro lugar, o placebo não foi um verdadeiro placebo...foi uma solução de Ringer (lactato de Ringer? não consigo perceber), o que até poderia diminuir o potencial benefício dado o sinal do lactato de Ringer para melhor desfechos renais, mas também diminui o potencial sinal para malefício por não ser uma substância inerte com o seu próprio potencial de malefício. Depois, não houve redução de desfechos mais relevantes como dias de internamento e mortalidade. Em último lugar, tendência para mais coisas más como arritmias e AVC...e cuja magnitude podia ter sido maior se o placebo fosse mesmo placebo. Aplaudo a tentativa de se provar esta intervenção num ensaio de grandes dimensões e bem estruturado...mas não sei se os resultados serão suficientes para mudar a prática, embora certamente haverão muitos rogue cowboys entusiasmados.

Conclusão: Infusão de aminoácidos EV na cirurgia cardíaca preveniu lesão renal aguda...mas sem benefício noutros desfechos de relevo e com sinal para malefício de coisas como mais arritmias e AVC.


Endocrinologia

n=210, 29 centros na China, 52 semanas, 2021-2022

Tirzepatido eficaz na redução de peso de chineses com IMC>28 quando comparado com placebo, com redução de 14% e 18% com tirzepatido 10mg e 15mg.


Gastroenterologia & Hepatologia

n=106, duplamente-oculto com "sham intervention", Índia, 2021-2022

Neste ECA a testar a litotrípsia extra-corporal e endoscopia de dilatação do ducto pancreático comparados com grupo controlo que fez simulação de intervenção ("sham"), parece haver discreto benefício às 12 mas não 24 semanas (o benefício às 12 semanas foi apenas 0.7/10 na escala de dor e não chegou houve redução de 30% da dor).


Geral, Geriatria & Paliativos

n=158 (1.379 rastreados), não-oculto, 2 hospitais em Seattle/Washington, 2018-2021

Em doentes que sofriam de dor crónica após TCE e que já tinham ida a pelo menos 1 consulta no último 1 ano pelo tema, uma intervenção colaborativa que contemplou consultas e/ou telefonemas personalizados com t. cognitivo-comportamental durante 4 meses (+ 2 meses de monitorização telefónica) foi eficaz em reduzir a dor após 8 meses


Infecciologia, Microbiologia & Antimicrobianos

n=155, duplamente-oculto, Pfizer, 2022-2023

Finalmente a verdade a vir à superfície, Depois de termos finalmente conhecido recentemente a publicação do EPIC-SR - ECA negativo para nirmatrelvir/ritonavir no COVID-19 de doentes substancialmente imunizados (vacinados e doença prévia) - depois de mais de 2 anos de espera (acho isto um escândalo), temos que, agora, o "paxlovid" também foi negativo no chamado de "COVID-longo", seja lá o uqe isso seja. Já nem discuto a existência desta entidade nebulosa, isso fica para outro dia, mas fica aqui mais um ensaio negativo para um medicamento que fez facturar muita gente sem nunca ter dados provas ("tamiflu" all over again...não aprendemos).


Neurologia

n=3.144 (mITT) / 3.154, não-oculto, multicêntrico na Europa e Canadá, 2016-2022

P - AVC não-cardioembólico não-grave ou AIT + Doentes internados

I - Cuidados habituais + Colchicina 0.5mg qd

C - Cuidados habituais

O 1º » IGUAL AVC fatal ou AVC fatal não-recorrente ou EAM ou PCR ou Estadia hospitalar>24h - 9.8 vs 11.7 %, p=.12

2º » Iguais EAs graves | ? outros EAs ?

» ? mortalidade ?

» Menos PCR a 1 mês, 1 ano, 2 anos e 3 anos

Comentário: Não fico nada CONVINCEido (perdoem) com este ensaio, mas tive de trazer pela novidade. Na verdade, não só não foi positivo como os autores não fazem grande tentativa de argumentá-lo nas conclusões, como muitos outros. Mas fica um cheiro a potencial benefício no ar...no entanto, não podemos ficar por aqui! Temos de saber que, mesmo onde se apregoa a colchicina ser fundamental - síndrome coronário - o benefício foi fraquinho. No COLCOT, o benefício foi sobretudo devido a desfechos com pouca importância clínica como menos revascularizações (decididas pelo médico pelo que subjectivo) e houve mais coisas más como pneumonia, e, no LoDoCo-2 houve até mais mortalidade não-cardiovascular e tendência numérica para maior mortalidade total. Percebem o meu cepticismo? Não é porque tenha grandes ódios pessoais em relação a fármacos, farmacêuticas ou investigadores, é mesmo porque fico genuinamente preocupado com coisas que fazemos aos nossos doentes que os podem mais matar do que não matar.  A linguagem é crua mas sincera. Pois bem, neste caso, AVC não-cardioembólico, a colchicina não foi grande charuto e não consegui saber desfechos de relevo porque o Lancet não me deixou. Fica para outro dia, mas não fico muito expectante.

Conclusão: Colchicina sem eficácia objectivável no AVC não-cardioembólico não-grave ou AIT.


 

NORMAS DE ORIENTAÇÃO CLÍNICAS - GUIDELINES

Inteligência Artificial

Recomendações da ACP sobre utilização de IA nos cuidados de saúde. Bem gerais e, na verdade, de acordo com o senso comum, mas fica o registo.


 

ESTUDOS OBSERVACIONAIS

REVISÕES SISTEMÁTICAS COM ESTUDOS OBSERVACIONAIS (com ou sem ECA)

Cardiovascular

Anticoagulation for post-operative atrial fibrillation after isolated coronary artery bypass grafting | EHJ

28 estudos / n~1.7 milhões, grupo de investigadores dos Países Baixos

Dos estudos observacionais até agora publicados na FA pós-CABG com uso de NOAC, parece haver risco de FA em ~25% (risco baixo, talvez fosse maior se cirrugia valvular e não apenas CABG) e risco muito baixo de AVC (a 1 ano é apenas 0.6%). Apesar de haver maior risco de eventos tromboembólicos, mortalidade e hemorragia nestes doentes (aumento absoluto baixo), não encontraram associação entre NOAC e menor risco dos 2 primeiros, mas encontraram sim associação para mais hemorragia (aumento relativo de 30%). Apenas observacional...mas já nos diz coisas.

 

PRIMÁRIOS - SUB-ANÁLISE / COORTE / CASO-CONTROLO / INQUÉRITOS / A. ECONÓMICAS

Cardiovascular

n~5.000 (de ~1.8 milhões), coorte retrospectiva, base de dados nacional, Dinamarca, 2018-2021

Destes milhões de doentes com dor crónica, havia uns milhares a fazer canábis com prescrição médica. Chegou-se a uma associação entre esse consumo e risco de arritmia de novo depois de emparelhamento com controlos, com um risk ratio de ~2 e um ARA de 0.4% (NNH de 250). As curvas de Kaplan Meier separaram-se tardiamente, o que aumenta a confiança para o achado. Sem associação com SCA, AVC ou IC.


Doente crítico/urgente

n=470, coorte retrospectiva, base nacional (registo CARES), EUA (~50% da população), 2015-2019

Utilização de várias práticas de treino rigoroso e frequente com utilização de simulação de técnicas e/ou cenários resultou em aumento de doentes com maior sobrevida com bom desfecho nuerológico (o desfecho que mais queremos). Das 7 práticas identificadas, utilização de pelo menos 4 associadas a esse desfecho.


Geral, Geriatria & Paliativos

n=74.563 mulheres / 39.501 homens, registos estduais, 11 estados (mulheres) / 50 estados (homens) dos EUA, '80-'20

Comida ultra-processada associada a maior risco de mortalidade geral numa coorte de profissionais de saúde saudáveis e sem doenças oncológicas ou cardiovasculares. Sim, é sempre difícil de imputar causalidade na nutrição...mas fica o sinal de malefício. Outra grande dúvida é destrinçar entre quais os alimentos processados "maus" (ex: atum enlatado é um alimento processado). Oiçam o Carlos Martins a discorrer sobre o assunto no seu podcast.


Hematologia

n=8.617, coorte retrospectiva, Austrália / Nova Zelândia, 2000-2022

Nesta coorte de milhares de doentes em UCI com sépsis e neutropenia <1.00 x 10^9 cél/L, foi possível estratificação em 3 grupos: neoplasia hematológica, neoplasia sólida e sem neoplasia. Interessantemente, o grupo de pior prognóstico (mortalidade ~45%) foi o sem neoplasia, o que nos poderá servir de alerta para quando tivermos um doente sem cancro com neutropénia. Por outro lado, os com cancro hematológico têm melhor prognóstico: são geralmente mais jovens, vêm mais da enfermaria que do SU e têm uma mortalidade menor.(~30%).


Infecciologia, Microbiologia & Antimicrobianos

n=70, coorte retrospectiva, EUA / Texas, 2016-2022

Coorte de bacteriémia por enterococcus que não faecalis ou faecium, com sobretudo E. galllinarum e E. casseliflavus e identificação de uma não-menosprezável mortalidade a 30 dias de 20%. Eram sobretudo doentes com infecção intra-abdominal (80%) e neoplasia hematológica (56%) e, dos que tinham neoplasia sólida, a maioria era gastrointestinal.(90%).


n=413 (1.475 inquiridos), estudo qualitativo, questionário de base nacional, EUA

Dos 400 médicos infecciologistas que responderam ao questionário dizendo tratar infecções osteoarticulares, 90% dizem usar antibióticos orais em algum momento e 30% dizem fazer parte do seu tratamento padrão (isto falando de antibioterapia oral depois de 2 semanas de EV...o que até aqui pode ser discutível tanto tempo, já que o citado OVIVA fez transição depois de 1 semana EV). A maioria das utilizações de abt PO é na osteomielite de pé diabético e artrite séptica de articulação nativa. A utilização de antibioterapia supressiva acontece sobretudo na infecções de prótese tratadas com desbridamento e retenção de prótese. Os esquemas utilizados não espantam muito, com as diferenças norteamericanas habituais, e o motivo para não transição também não.


n=78, coorte retrospectiva de doentes consecutivos, 2 hospitais de Berlim, 2010-2020

Antes de mais, importante dizer que se trata dum estudo proveniente dos centros com mais experiência em infecções de material externo comandado pelo conhecido Andrej Trampuz, mentor de várias recomendações e estudos no tema. Desta feita, estudaram as infecções de enxerto vascular. ´Dividiram em infecções precoces (<8 semanas desde implante) e tardias (>8 semanas depois) e observaram cerca de 50/50 para cada uma (um pouco mais de tardias) e mais aórticas que periféricas. Encontraram associação para tempo até diagnóstico muito maior nas aórticas que nas periféricas (1 ano vs 2 meses), prognóstico pior nas tardias mas que melhorou quando remoção de enxerto e complicações locais / infecciosas se associadas a mais infeccções precoces. Atentar para as nossas práticas.


Meta-investigação & MBE

Epidemic outcomes following government response to COVID19:Insights from nearly 100.000 models|ScienceAdvances

n>120.000 observações / 16 respostas governamentais / 181 países,  análise multiverso, 2020-2021

Nesta análise "multiverso" através de centenas de milhares de modelos diferentes, as 16 medidas restritivas não foram claramente associadas a melhoria dos desfechos. Na verdade, mais de metade não foi associada. Como comparação, os autores comparam a vacina contra o sarampo, onde TODAS as medições foram associadas a melhoria.


Psiquiatria

n=788, estudo transversal, 10 centros terciários, China, 2016-2021

Interessante. Nos doentes com 1º episódio psicótico manifestado com sintomas negativos (menos comum), houve uma maior associação com disfunção cognitiva.

 

CASOS CLÍNICOS e SÉRIES DE CASOS

Doente crítico/urgente

Caso interessante de intoxicação com 130mg/kd de ferro (90 cásulas de sulfato ferroso 329.7 mg), mais do dobro do limiar para toxicidade grave (60mg/kg)!! Não há grandes medidas curativas além das medidas de suporte já que a deferoxamina (quelante de ferro) não pode ser utilizada por demasiado tempo com risco de insuficiência respiratória. Neste caso, culminou na necessidade de transplante.


Endocrinologia

Já internei um doente que achava ter cetoacidose diabética euglicémica em contexto de pouca ingesta calórica após iniciar aGLP-1. Na altura reparei em alguns olhares desconfiados e perguntas cépticas. Aqui está um caso parecido.


Gastroenterologia & Hepatologia

Boa revisão em jeito de caso sobre anemia na cirrose, sobretudo anemia refractária e sobreaindamaistudo anemia hemolítica. A última pode se manifestar nos 4 tipos principais: anemia autoimune (diagnóstico difícil e de exclusão), doença de Wilson (doentes mais jovens, anemia hemolítica pode ser fulminante e preceder sintomas neurol´´ogicos), síndrome de Zieve (alcoólicos, por hiperlipidémia) e anemia de acantócitos (em esfregaço e sem outras alt. séricas a não ser, talvez, nas apoliproteínas).


Geral, Geriatria & Paliativos

Embora esteja ainda céptico desta intervenção - sobretudo depois de ler nesta recente RS de ECAs que o benefício nos ECAs com sham placebo não foi incrível - a neuroestimulação medular anda a ser utilizada na dor neuropática refractária. Este caso demonstra o suposto benefício no 1º caso publicado de utilização em nevralgia pós-herpética. Digo suposta pois isto é apenas 1 caso clínico e não constitui prova de benefício. Mas fica a hipótese!


Imuno-mediadas

A síndrome de trombocitopenia, anasarca, febre, fibrose reticulina, disfunção renal e organomegalia (TAFRO) é um conceito recente cuja fisiopatologia permanece desconhecida. Os critérios de Masaki obrigam exclusão de neoplasia e doenças imuno-mediadas, mas estes 2 casos de TAFRO associada a LMC colocam-nos em questão. Parece ser uma doença originada por hiperestimulação/actividade de Il-6 num espectro de gravidade.


Infecciologia, Microbiologia & Antimicrobianos

Sinal da impressão digital ajuda a diagnosticar superinfecção de estrongiloidíase e estrongiloidíase disseminada. Pode ser confundida com outros como vasculites mas ajuda a diagnosticar, sobretudo se agravamento após corticóides.


Nefrologia

3 casos de doença de lesão mínima com podocitopatia, de bom prognóstico, depois de semaglutido. Ainda precisamos de uma série de casos maior, mas fica o sinal para suspeita.

Neurologia

Desconhecia totalmente esta entidade de hemicoreia/hemibalismo unilateral em contexto de hiperglicémia grave...mas, reflectindo bem, posso ter visto pelo menos um doente com isto (mas passei à neurologia e terminei o banco logo de seguida, pelo que não conheci o desfecho). Acontece maioritariamente em asiáticos mas também nos restantes.

A deficiência de transcarbamilase de ornitina é a principal doença do ciclo de ureia e, como consequência da supressão deste ciclo, leva a hiperamonémia que cursa principalmente com encefalopatia (edema cerebral e aumento da pressão IC) e que pode ser fatal. Embora seja uma doença do cromossoma X e surja mais em crianças do sexo masculino, começa a crescer a incidência no adulto, como neste caso (51 anos). Os corticóides são um factor precipitante habitual, talvez porque suprimem o ciclo de ureia.

 

OPINIÃO

REVISÃO NARRATIVA

Inteligência Artificial

Bom resumo de coisas que, mesmo que não interessem a todos, teremos que, pelo menos, saber algo sobre as mesmas. Neste caso, discorre-se sobre a "explainability" dos sistemas de IA, ou seja, como é que conseguimos explicar na prática clínica ou transcrever para alguma forma de explicação achados de estudos com IA.


POCUS

Nada de substancialmente novo, mas engraçado e original, com várias imagens no final e tabelas para organizarmos as suspeitas diagnósticas quando partimos para as nossas ecografias de cabeceira.

 

PERSPECTIVA

Meta-investigação & MBE

Viéses em estudos observacionais de eficácia de vacinas. Exemplo: não contar desfechos nos 1os 14 dias.


FDA's censoring rules doubled the PFS difference | Sensible Medicine - European Journal of Cancer

Regras de censoring da FDA fizeram com que PFS duplicasse! Shame.


Oncologia

Terapia dupla sem vantagem: usar nivilumab ou ipilimumab

 

NOTÍCIAS

Hematologia

Entre os anos 70 e 90 aconteceram uma série de infecções por contaminação de sangue que são um dos ou maior escândalo do NHS de sempre.


Infecciologia, Microbiologia & Antimicrobianos

Higiene das mãoes e desinfectar o máximo e melhor que conseguirmos. Não me parece nada muito novo...mas ainda assim ainda não maximamente praticado.


 

FOAMed


Cardiovascular

Três contrapontos com bons argumentos contra alguns achados do surpreendente DanGer-Shock.


Infecciologia, Microbiologia & Antimicrobianos

Análise preocupante do famoso ECA da vacina "Cominaty" produzida pela Pfizer (C4591001, NEJM), nomeadamente, análise dos desfechos de mortalidade. Confesso que fui um dos que ficou altamente esperançoso e confiante que a pandemia iria virar com as vacinas, e parece que virou. Mas estas análises recentes fazem-me duvidar do espectacular impacto das mesmas. Terá sido em parte a imunização de grupo? Outro factor? Não sei. O que é certo é que, neste ensaio, parece que não foi medida a mortalidade total ou mortalidade por COVID-19 apesar de esta pertencer ao desfecho composto secundário...estranho.


Meta-investigação & MBE

Nem a Cochrane escapou à politização da ciência ao sabor da narrativa mediática. Felizmente, alguma dignidade foi reposta.


Grupos de controlo adequado são imprescindíveis, e uma recente RS com MA a estudar efeito de placebos na psiquiatria é um bom exemplo disso mesmo.


Oncologia

HOW TO DO A GREAT ONCOLOGY JOURNAL CLUB... LIVE EDITION! + Q&A | Drug Development Letter

Boas dicas. Os ECAs na oncologia são realmente difíceis de interpretar...felizmente há gente incansável e inteligente neste mundo.


 

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ABA - Aumento de Benefício Absoluto | ARA - Aumento de Risco Absoluto | EBM - Evidence-based medicine | ECA - Ensaio controlado e aleatorizado | ITT - Intention-to-treat Analysis | MA - Meta-análise | MBE - Medicina baseada na evidência | NIT - Non-inferiority trial | NNH - Number needed to harm | NNT - Number needed to treat | PPA - Per protocol analysis | RR - Redução Relativa | RRA - Redução do Risco Absoluto | RS - Revisão Sistemática

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