No substack: esFOAMeados No patreon: esFOAMeados Em podcast: Hipótese Nula
TABELA DE CONTEÚDOS
SINOPSE
🎂 Nata da nata
- Cirurgia --> Terapêutica hemodinâmica dirigida a alvo superior a fluidoterapia convencional (Lancet DS)
🍰 Nata
- FA subclínica --> Rastreio de FA + início de NOAC sem benefício (GUARD AF, JACC)
- FA pós-ablação --> LACC vs NOAC não-inferior...será mesmo? e vs placebo? (OPTION, NEJM)
- ICFEp --> Tirzepatido aparentemente eficaz...será mesmo? Ver desfechos... (SUMMIT, NEJM)
- CABG --> Resecção do ligamento de Marshall e da perigordura reduziu FA pós-OP (pCAD-POAF, JAMA Card)
- EAM --> Colchicina (e espironolactona) no pós-EAM não foi eficaz no maior ensaio até à data (CLEAR, NEJM)
- Doença IgG4 --> Inebilizumab reduziu flares de doença e fibrose -> 1º fármaco à data? (MITIGATE, NEJM)
- Bacteriémia --> Antibioterapia 7 dias não-inferior (e superior?) a 14 dias, até em doente crítico (BALANCE, NEJM)
- D. Crohn mod-grave --> Mirikizumab (anti-Il23p19) eficaz no Crohn refractário (VIVID-1, Lancet)
- Depressão --> TCC guiada por computador e Estimulação Magnética Combinada eficazes (JAMA Network Open)
🧐 Observações
- Primários: Doente cirúrgico internado e iatrogenia | Carcinoma da tiróide e tiroidectomia sem radioiodo | Asma e gravidade | Demência e memantina com inibidor de colinesterase
- Casos e séries: Calcifilaxia por etiologia menos frequente
🌎FOAMed
PCR - Acesso endovenoso vs intraósseo | Hiponatrémia e novo paradigma de correcção | Antibióticos e uso ancestral | Pancreatite e corticóides | Anemia ferropénica e ferro | Alimentação parentérica
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REVISÕES SISTEMÁTICAS de ECAs
Cirurgia, Ortopedia & MFR
x75ECAs / n~13.000 participantes / ~1.500 SSIs (11%), várias bases de dados, GRADE, até 09/2024, Países Baixos
P - Cirurgia
I - Terapia hemodinâmica guiada por alvos
C - Fluidoterapia convencional
O » MENOS infecções de local cirúrgico - 9.4 vs 13.3 %, RRA 3.9 % / NNT 26
Comentário: Isto (guiar-nos pelo hemodinâmica ao invés de "fluidos para todos") far-me-ia previamente sentido sem sequer saber os resultados desta aglutinação de ensaios controlados e aleatorizados. A vantagem é que conseguimos organizar o que a maioria da evidência nos diz, ainda que tenhamos sempre de ter cautela com as meta-análises.
Conclusão: Terapêutica hemodinâmica guiada por alvos superior a fluidoterapia convencional no perioperatório.
ENSAIOS CONTROLADOS E ALEATORIZADOS
Cardiovascular
n=11.905, ITT,149 centros de cuidados primários nos EUA, 2019
P - Idosos >70A
Basal: ~75A | H:M=1:1 | CHADVASC~3 | Follow-up ~15 meses | Suspenso antes do tempo com apenas 20 % do planeado (pandemia)
I - Holter 14 dias
C - Habitual
O 1º » (sem poder para desfecho primário = hospitalizações por AVC ou por hemorragia)
2º » Igual AVC - 0.7 vs 0.6 %
» Mais/igual hemorragia - 1.9 vs 1.1 %
» Mais FA - 5 vs 3.3 % | Mais início de NOAC - 4.2 vs 2.8 %
Comentário: Ensaio suspenso com apenas 20 % da amostra planeada, pelo que grandes conclusões serão sempre limitadas. No entanto, já existe toda uma literatura prévia que nos dá algumas luzes. Temos o parecido STROKESTOP (também com Holter por 14 dias) com um maior tamanho amostral (~30.000 no total, sendo que 7.000 dos 14.000 do grupo de intervenção participaram no rastreio) e ainda o LOOP (dispositivo implantável), onde os resultados não foram famosos para rastreio de FA e anti-coagulação se detecção (discutir estes dois ensaios seria para outro dia, mas se tiverem curiosidade leiam a carta de 2019 do John Mandrola e do Andrew Foy e vejam a diferença de FA detectada entre os 2 ensaios, e depois de compararem qual deles teve mais FA detectada vejam como assimilam isso nos resultados de cada um dos ensaios). Temos também os recentes ARTESIA (comparação inadequada pois entre NOAC e ASA) e NOAH-AFNET 6, também já discutidos e também com controvérsias. A novidade deste, se é que há novidade, é que confirma que o risco de AVC de idosos com FA subclínica é bastante baixo: inferior a 1%. Para o mesmo CHADVASC de 3, nos estudos originais onde predominava FA clinicamente relevante, o risco de AVC foi >3%! Daí que, numa população "moderna" (talvez por melhor controlo de FRV), a anticoagulação aumentou mais o risco hemorrágico que de AVC, como aconteceu neste ensaio.
Conclusão: Rastreio de FA com ECG 14 dias e início de NOAC se FA não detectou mais AVC e aumentou hemorragia.
n=1.600, NIT, não-oculto, multicêntrico e internacional em 144 centros, 3 anos
P - FA + CHADVASC de risco (=>1 nos homens ou =>2 nas mulheres) + Pós-ablação
Basal: ~70A | H:M=3:1 | CHADVASC~3.5 | Follow-up ~36 meses
I - Encerramento do apêndica auricular ("LAAC")
C - NOAC
O 1º » NÃO-INFERIOR morte, AVC ou embolia sistémica aos 3 anos - 5.3 vs 5.8 %, p<0.001
» NÃO-INFERIOR hemorragia não-procedimental ou clinicamente relevante não-major - 8.5 vs 18.1 %, p<0.001
2º » NÃO-INFERIOR hemorragia major (incluindo procedimental) - 3.9 vs 5.0 %, p<0.001
Comentário: Não comentarei extensivamente (vide John Mandrola) mas farei apenas um preâmbulo. Tendo em conta que a grande dúvida é se sequer anticoagular será superior a placebo (nunca foi testado em ECA), porque é que temos um ensaio de não-inferioridade a comparar uma intervenção não testada com outra intervenção, que ainda por cima é invasiva? Parece estranho não é? Pois. De resto, desfechos quase que construídos para o sucesso, como, aliás, tem sido a norma, ultimamente.
Conclusão: Na FA de risco tromboembólico pós-ablação, LACC não-inferior a NOAC? Hmm. E a placebo?
n=731, duplamente-oculto, multicêntrico e internacional em 146 centros, 104 semanas
P - ICFEp (>50%) + NYHA II-IV + IMC=>30
Basal: ~65A | IMC~38, Peso~104kg | NYHA II em 75 % | NTpBNP~182 pg/mL | PCR-as ~ 5.8 | diuréticos em 74%, ARM em 35%, iSGLT2 em 17%
I - Tirzepatido 2.5mg até 15mg SC semanal por 52 semanas
C - Placebo por 52 semanas
O 1º » MENOS mortalidade cardiovascular ou "eventos de IC agravada" às 52 semanas - 9.9 vs 15.3 %
IGUAIS/MAIS mortalidade cardiovascular - 2.2 vs 1.4 % (8 vs 5 doentes), HR 1.6 (0.5 - 4.8)
MENOS "eventos de IC"* (internamentos por IC ou tratamento EV ou incremento de diurético PO) - 8 vs 14 % (29* vs 52 doentes)
*maioria: incremento de diurético PO ; ? internamentos totais ?
» MELHOR? qualidade de vida - +20/100 vs + 13/100 no KCCQ-CSS, dif. de +7/100
2º » Mais EAs com descontinuação (maioria gastrointestinais) - 6.3 vs 1.4 %
» Maior perda de peso - 14 vs 2 % | Maior redução de PAS » -4 vs 0 mmHg | Maior redução de PCR-as » -39 vs -6 %
Comentário: Não tenho dúvidas que perder peso seja benéfico. Mesmo antes de conhecer a existência dos análogos das incretinas, se me perguntassem se perder peso seria genericamente vantajoso, diria que sim. Se me perguntassem se tal se manteria com muito peso (>100kg), responderia ainda mais prontamente que sim. Conhecendo a fisiopatologia e os doentes com IC de FEj preservada, em que a obesidade é um fenótipo habitual, diria que, nestes doentes, ainda mais benéfico seria perder peso. Não fico, portanto, admirado que uma grande perda de peso - RRA de 12 % e NNT de 8 - seja vantajoso. Agora, temos de perceber se o que leva a essa perda de peso é, de facto, uma arma para perder peso ou para proteger directamente o coração. Aqui tenho mais dúvidas. A única coisa claramente melhorada foram os "eventos de IC agravada", em que a maioria dos eventos foi aumentar dose de furosemida, que é uma coisa muito subjectiva e variável entre médicos. Ademais e uma vez mais, não sabemos o impacto nos internamentos totais, mantendo-se a regra verificada com iSGLT2 e ARM na ICFEp. Até podemos ficar confundidos pois, com tão poucos eventos, quase que parece que houve maior mortalidade cardiovascular. Outra limitação a considerar é que será bastante improvável que a ocultação seja mantida com um medicamento que faz perder tanto peso e dá tantos eventos gastrointestinais como este. Provavelmente, este ensaio será vendido como um em que o tirzepatido provou ser uma arma para a ICFEp. No entanto, ao contrário dos ensaios na ICFEr e DRC, estes ensaios na ICFEp têm deixado mais dúvidas que respostas.
Conclusão: Em doentes obesos (maioria muito obesos) e ICFEp c/ NYHA II-IV, tirzepatido melhorou desfechos?
n=416, não-oculto, 22 centros em Canadá, EUA e França, follow-up 4.3 anos
P - Taquicardia Ventricular clinicamente significativa e EAM prévios
I - Ablação
C - Antiarrítmicos (amiodarona ou sotalol)
O 1º » MENOS morte, tempestade TV ou TV sustentada (choque ICD ou AA) - 50 vs 60 %, HR 0.75 (0.58 a 0.97, p=.03
2º » Iguais EAs fatais - 1 vs 0.5 % | Menos EAs não fatais - 11 vs 22 %
Comentário: Não é de todo a minha praia, mas comentando brevemente: 1º ensaio a comparar as 2 estratégias em 1ª-linha e a demonstrar que a abalação pode ser uma hipótese. Assim como no VANISH-1 (que estudava ablação em 2ª-linha vs aumentar anti-arrítmicos em 2ª-linha), parece que o benefício dá-se sobretudo no subgrupo de doentes elegíveis para sotalol, que são geralmente doentes com menos co-morbilidades. Portanto, nos mais doentes, será equivalente a amiodarona? Não sei. Mas é bom termos mais informação sobre o que potencialmente fazer.
Conclusão: No tratamento em 1ª-linha após TV pós-EAM, ablação pode ser superior/equivalente a anti-arrítmicos.
Cirurgia, Ortopedia & MFR
n=430, centro único na China, 2022-2023
P - CABG electiva (sem cirurgia cardíaca prévia ou outra co-cirurgia planeada)
I - CABG + Desnervação Cardíaca (ressecção do ligamento de Marshall e da gordura peri-sulco)
C - CABG apenas
O 1º » MENOS "FAPO" (arritmia SV >30min em D6) - 18.1 vs 31.6%, RRA 13.5% / NNT 7, RR 0.57 [0.41-0.81], p=.001
2º » Menor carga de FAPO e duração de FAPO
» Iguais EAs (tendência numérica para menos)
Comentário: Interessante. Obviamente, precisará de ser validado num ensaio multicêntrico em centros ocidentais, e fica com algumas dúvidas quanto à mediação de "FA pós-operatória" ou "FAPO", mas fica a hipótese.
Conclusão: CABG com desnervação cardíaca (ressecção de ligamento de Marshall) reduziu FA pós-operatória.
n=7.062, duplamente-oculto (quadruplamente), multicêntrico e internacional em 104 centros em 14 países, 2018-2024
P - Pós-EAM c/ ICP nas últimas 72 horas
Basal: ~100% Anti-agregação dupl e Estatina | 80% iECA/ARAII | ~61 anos | H:M 5:1
I - Colchicina 0.5mg qd
C - Placebo
O 1º » IGUAL morte CV, EAM recorrente, AVC ou revascularização não-planeada por isquemia aos 3 anos - HR 0.99
2º » Mais diarreia - 10.2 vs 6.6 %, ARA 3.6 % / NNH 28 | Iguais infecções graves | Igual descontinuação
» Menor PCR aos 3 meses » -1.28mg/L
Comentário: Ora bem. Depois dos ensaios COLOCT e LoDoCO2 parecia que a colchicina seria um fármaco com papel no síndrome coronário. Digo parecia pois, analisando os desfechos (analisem sempre! ver os desfechos e qual os desfechos que mudaram de um desfecho composto é o mínimo obrigatório que todos deveróiamos fazer) o benefício não parece assim tão espetacular. Dá-se sobretudo na redução de revascularização (que pode ser uma escolha muito enviesada e variável) e, eventualmente, eventos não-fatais. Surgiram até preocupações para maior mortalidade não-cardiovascular no LoDoCo2, talvez por mais eventos respiratórios. Outra coisa curiosa era que, analisando os desfechos secundários os suplementos, a colchicina nem parecia reduzir substancialmente os biomarcadores inflamatórios. Como habitual, saiu uma meta-análise que aglutinou tudo no mesmo saco ("falácia do batido de frutas", em que se mistura frutas diferentes num mesmo batido), colchicina parece eficaz e teve um upgrade nas guidelines europeia de recomendação IIb para IIa. Agora, neste ensaio de muito maior tamanho amostral, colchicina parece ser exactamente tão eficaz como placebo, mas a causar bem mais diarreia. Ademais, quase sem diferença na PCR (1.28mg/L é pouqíssimo). Precipitado? Críticos dizem que isto é uma população pós-EAM e não propriamente síndrome coronário. Hmm...okay...foram incluídos doentes no pós-EAM e avaliados desfechos a longo-prazo (3 anos), pelo que falamos sobretudo dessa evolução de EAM para síndrome coronário crónico. Mais importante que tudo, não nos esqueçamos das origens: a hipótese nula é a base de onde partimos. Temos de ser provados que a hipótese não é nula, e não vice-versa, como muitas vezes nos tentam fazer crer.
Conclusão: Colchicina não reduziu eventos em doentes pós-EAM no maior ensaio até à data.
Comentário: No mesmo ensaio de acima, que teve uma estrutura "multifactorial 2x2", também foi testada a espironolactona. Mais uma vez, eficácia exactamente igual a placebo e apenas com mais eventos adversos. Deixo então uma provocação: se temos colchicina em recomendação IIa, agora vamos lá meter a espironolactona? Claro que não, dizem-me vós. Pois.
Conclusão: Espironolactona não reduziu eventos em doentes pós-EAM.
n=12.821, 145 centros na China, 2019-2021
P - 50 anos + DM2 + PAS elevada
I - Alvo de PAS<120mmHg durante 5 anos (» 121mmHg em média)
C - Alvo de PAS<140mmHg durante 5 anos (» 133mmHg em média)
O 1º » "Menos" AVC não-fatal, EAM não-fatal, tratamento ou hospitalização por IC ou morte CV - 1.7/100 vs 2/100
Redução à custa de?
2º » Mais hipotensão sintomática e hipercaliémia
Comentário: Mais uma vez, olhem com cautela. 1.7 vs 2 eventos em 100 pessoas-ano? Acham mesmo isto diferente? Arredondado, e porque ainda não podemos ter décimas de eventos, são 2 eventos em ambos. Depois, temos sempre a velha questão de ser na China. Mas mesmo que tivesse sido por cá, estes resultados não me convenceriam muito a ser agressivo no tratamento da PAS nos adultos com DM2. Até porque podemos induzir iatrogenia.
Conclusão: Em adultos chineses de 50 anos com DM2 e PAS elevada, tratamento agressivo não foi espectacular.
Gastroenterologia & Hepatologia
n=1.150, duplamente-oculto e "dummy", multicêntrico e internacional em 324 centros, 2019-2023
P - D. Crohn moderada a grave refractária (resposta inadequada, perda de resposta ou intolerância a =>1 tratamento)
I - Mirikizumabe 900 mg EV nas semanas 0, 4 e 8 -> depois -> 300 mg SC a cada 4 semanas das semanas 12 a 52
C1 - Ustekinumabe 6 mg/kg EV na semana 0 -> depois -> 90 mg SC a cada 8 semanas das semanas 8 a 52
CO - Placebo
O 1º » MELHOR eficácia (clínica às 12S e 52S e endoscópica às 52S) de "I vs C0" ... e "vs C1 ??"
2º » Menos EAs graves - 10 % (I e C1) vs 17 % (C0) | Iguais EAs
Comentário: Ora bem, temos um novo fármaco. Mas qual a vantagem em relação ao ustekinumabe? Eu ia começar por elogiar ser o 1º ensaio recente de que lembro com comparador activo biológico na D. Crohn, mas depois de ver que, no resumo, não se menciona comparação de eficácia entre os braços dos 2 biológicos, voltei a desesperar.
Conclusão: Na D. Crohn moderada-grave refractária, mirikizumabe foi mais eficaz que placebo...e que ustekinumabe?
Imuno-mediadas
n=135, duplamente-oculto, multicêntrico e internacional em 80 países e 22 centros
P - Doença IgG4 + =>2 orgãos-alvo + Activa (flare actual ou recente + corticoterapia)
I - Inebilizumabe (anti-CD19+) 300mg EV nos dias 1 e 15 e semana 26, por 52 semanas
C - Placebo por 52 semanas
O 1º » MENOS 1º flare de doença - 10 vs 40 %, RRA 30 % / NNT 3
2º » Menos flares em 1 ano - RR 0.14 (95% CI, 0.06 to 0.31), p<0.001
Mais livres de flares em 1 ano - OR 4.68 (95% CI, 2.21 to 9.91), p<0.001
Mais livres de flares e de corticóides em 1 ano - OR 4.96 (95% CI, 2.34 to 10.52), p<0.001
» Mais eventos adversos (quais?) - 18 vs 9 %, ARA 9 % / NNH 11
Comentário: O inebilizumabe é, se não me engano, um medicamento aprovado e usado na neuromielite óptica. Agora, foi o 1º biológico, também se não me engano, a demonstrar benefício específico nesta rara mais devastadora doença. Cuidado com os eventos adversos, e especial cuidado com doentes imunodeprimidos e com hepatite b, hepatite c ou tuberculose (excluídos), mas o benefício parece suplantar o risco. Gostava só de saber mais das características basais, sobretudo que orgãos afectados e que dose de corticoterapia, mas não consigo.
Conclusão: Inebilizumabe foi eficaz a reduzir flares na doença IgG4 activa
Infecciologia, Microbiologia & Antimicrobianos
n=3.608, NIT, multicêntrico e internacional em 74 centros de 7 países
Comentário: Já é, entretanto, o 4º ensaio a provar-nos que podemos tratar doentes com bacteriémia com 7 dias ao invés dos clássicos 14 (com excepções particulares como o s. aureus, excluido deste ensaio). A vantagem deste é ser o maior ensaio à data com 6x mais doentes que os outros (>3.000 doentes vs ~500 doentes) e ter cerca de metade dos doentes tratados em UCI, que ou foram excluídos ou pouco incluídos nos outros. Também tem muito mais doentes com gram positivos que os outros. O benefício parece ser transversal até aos doentes mais criticamente doentes e com vários focos de infecção. Para finalizar, quase que parece haver mais mortalidade com os 14 dias, o que dá que pensar.
Conclusão: Antibioterapia por 7 dias suficiente para a maioria das bacteriémias, mesmo em doente crítico.
Psiquiatria
n=175, centro académico único, EUA/Louisville, 2016-2019
P - Depressão ligeira a moderada
I - Terapia cognitivo-comportamental (TCC) guiada por computador por 3 meses
C - Habitual
O 1º » MELHOR qualidade de vida = QALY (avaliados por SF-12)
» ICER (rácio incremental da custo-efectividade) de ~37.000 dólares / QALY
Probabilidade de 90% de custo-efectividade com "limiar para pagar" de 50.000 dólares / QALY
Comentário: Como ponto positivo, estudo económico baseado em ensaio controlado e aleatorizado, como deveria sempre ser, em que fizeram o próprio ensaio. Ponto negativo, e transversal a qualquer um destes estudos, é que ficamos sempre com a dúvida sobre qual será o ideal "limiar para pagar".
Conclusão: Na depressão ligeira a moderada em cuidados primários, TCC pode ser custo-efectiva.
n=240, duplamente-oculto com "sham", 3 hospitais na China, 2021-2023
P - Depressão
Basal: HDRS-24 = 25/75 | ~32 anos | Demência há ~5 anos | Ideação suicida 38 - 42 % | Escitalopram em 50 % e outros
I1 - Estimulação Directa Corrente ACTIVA + Estimulação Magnética Repetitiva ACTIVA
I2 - Estimulação Directa Corrente SIMULADA + Estimulação Magnética Repetitiva ACTIVA
I3 - Estimulação Directa Corrente ACTIVA + Estimulação Magnética Repetitiva SIMULADA
I4 - Estimulação Directa Corrente SIMULADA + Estimulação Magnética Repetitiva SIMULADA
O 1º » MENOS sintomas depressivos (HDRS-24) - 8 vs 15 vs 15 vs 15 (0-75, >25 = grave)
Comentário: Não sou entendido na técnica, mas, sem analisar com todo o detalhe o ensaio, só o facto de terem sido intervenções supostamtente "sham" (se foram mesmo, já é outra questão...) é um ponto a favor. Não havendo grande desvantagens, porque não ambas?
Conclusão: Combinação de duas técnicas de estimulação craniana superior a apenas uma.
ESTUDOS OBSERVACIONAIS
PRIMÁRIOS - SUB-ANÁLISE / COORTE / CASO-CONTROLO / INQUÉRITOS / A. ECONÓMICAS
Cirurgia, Ortopedia & MFR
n=1.009, coorte retrospectiva, amostra aleatória de ~65.000, 11 hospitais dos EUA, 2018
Justamente no dia em que termino de ler o cáustico mas clássico livro "Medical Nemesis" do Ivan Illitch, que faz uma crítica arrojada e acutilante sobre o perigo da maior iatrogenia da sociedade "medicalizada" actual. (não concordando com tudo, é excelente para nos fazer pensar), deparo-me com este estudo. Foram observados eventos adversos em 1/3 dos doentes, dos quais cerca de metade seriam evitáveis. Preocupante, não?
Neurologia
n=1.820 vs 3.612 / 16.292, coorte retrospectiva, propensity score, 2014-2019
Os inibidores da colinesterase - donepezilo, rivastigmina e galantamina - estão indicados para a demência ligeira a grave e a memantina (inibidor NMDA) para a moderada a grave. Apesar de ser prática comum, não é claro, através dos ECAs existentes, que memantina + inibidor da colinesterase seja clinicamente vantajoso (embora, verdade seja dita, o benefício clínico destes fármacos no geral seja, por si só reduzido e discutível...). Neste estudo de coorte em que se compararam coorte em que se suspendeu inibidores de colinesterase depois de se ter iniciado memantina com coorte emparelhada que não suspendeu, não parece haver menor eficácia mas, aqui sim, menor risco de queda.
Oncologia
n=698 / 776, ESTIMABLE2, NIT, follow-up aos 5 anos
Mantém-se a não-inferioridade da estratégia de não usar terapêutica radioiodada na pós-tiroidectomia de carcinoma de tiróide de baixo-risco.
Pneumologia
n=528 (SARP III, EUA) e 502 (U-BIOPRED, Europa), coorte retrospectivo
Estranhamente ou não, continuamos a classificar a gravidade da asma retrospectivamente com base na medicação e sintomas nos dias prévios. Esta é uma tentativa de usar uma melhor prognosticação com uma escala, testada nas 2 maiores coortes americana e europeia.
CASOS CLÍNICOS e SÉRIES DE CASOS
Dermatologia
Calciphylaxis: A Rare Cause for Lower Extremities Ulceration | RSPMI Associada a corticoterapia sistémica.
FOAMed
Cardiovascular
Importante lembrar ou relembrar a impressionante "vitória" da espironolactona sobre outros anti-hipertensores de 2ª-linha (incluindo o bisoprolol) neste ensaio que já tem 10 anos.
Doente crítico/urgente
Provocador. Para quem fez emergência extra-hospitalar, deveria ser imprescíndivel conhecer a evidência do uso da adrenalina, em 1º lugar. Em 2º plano, permanece a dúvida quanto a estas 2 vias. Talvez não sejam muito diferentes, mas talvez intraóssea mais rápida.
Endocrinologia
Correcção rápida não tão má - ou até melhor? - como se achava.
Gastroenterologia & Hepatologia
Pancreatite e corticoterapia: Remédio ou Veneno?
Geral, Geriatria & Paliativos
Hematologia
Bom resumo!
Infecciologia, Microbiologia & Antimicrobianos
Achados de exposição a tetraciclinas num povo ancestral do Sudão? Interessante.
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ABA - Aumento de Benefício Absoluto | ARA - Aumento de Risco Absoluto | EBM - Evidence-based medicine | ECA - Ensaio controlado e aleatorizado | ITT - Intention-to-treat Analysis | MA - Meta-análise | MBE - Medicina baseada na evidência | NIT - Non-inferiority trial | NNH - Number needed to harm | NNT - Number needed to treat | PPA - Per protocol analysis | RR - Redução Relativa | RRA - Redução do Risco Absoluto | RS - Revisão Sistemática
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